Argos Arruda Pinto

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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O surgimento de uma religião como uma necessidade humana

Escrito em: 11/01/2008. 
Revisado em: 10/10/2018. 

Palavras-chave: Religião, Xintoísmo, Japão, Relativismo religioso, Consciência, Acreditar, Fé. 
  
Imagine o seguinte cenário: um grupo de homo sapiens em uma ilha. Essas pessoas podem ser em número de centenas ou mesmo milhares. Eles apenas enxergam poucas ilhas distantes, não sabem o que é um continente porque nunca estiveram lá, não possuem tecnologia a fabricar barcos e explorar o oceano a sua volta. Possuem alguns artefatos feitos de barro representando homens, mulheres e animais, vasos de cerâmica, utensílios de bronze mostrando a capacidade de dominarem o fogo, de se lidar com esse metal. 

Como foram parar lá? Maremotos isolando sua ilha ou os seus antepassados vindos de alguma forma desconhecida por eles, já nasceram lá... 

O universo para eles é o céu a terra e o mar. Os elementos as plantas, aves e animais. Possuem dificuldades com o meio ambiente: tempestades, escassez de alimentos e água potável, hostilidade de feras, inimigos dentro da própria comunidade, etc. 

Lutam por sobrevivência, anseiam por épocas melhores, não entendem sobre doenças, talvez algumas plantas aqui e ali para amenizar algum problema de alguém. Inventam palavras para exprimirem seus sentimentos, modos mais adequados de se comunicarem entre si, suas descobertas, ideias, anseios... 

Possuem alguns entretenimentos. Se divertem em rios e cachoeiras. À noite se reúnem em volta de fogueiras, talvez já exista alguma forma de música, ritualística ou não, as crianças brincam despreocupadamente, as mães acompanham os homens ou conversam entre si. 

Mas todos sabem: depois de certo período, uma luz irá brilhar, iluminando toda a ilha. Assim, suas lutas recomeçarão, tentando não se abaterem com os estímulos negativos oriundos do meio ambiente. E não só esses estímulos os perturbam. Algo vindo de dentro, devido a um questionamento possibilitado pela inteligência e pela consciência de si, os perseguem desde há muito tempo: quem são, quem criou aquelas ilhas, o porquê do bem e do mal, qual o significado da vida e da morte? Esta última é a mais perturbadora de todas porque mexe com algo absoluto para eles: nenhum escapa. Todo ser vivo, aquilo diferente do mundo mineral, nasce, cresce e morre. As crianças são oriundas do ventre das mulheres e um dia irão morrer como os idosos, inimigos em luta, acidentados, etc. 

Alguma saída existe para esse conflito emocional oriundo de dilemas existenciais? Porque, no meu modo de ver, um sistema complexo como o cérebro, consciente, teria graves problemas emocionais e não funcionaria direito. Esses nativos estariam comprometidos seriamente com suas vidas, com a perpetuação do grupo na ilha. Mas, como todos os homo sapiens, eles possuem a capacidade de acreditar em si mesmos e em entes sobrenaturais. Proteção, segurança, esperanças, fé, etc., a motivá-los para enfrentar os seus obstáculos. 

Além de tudo palpável a eles, imaginam criaturas poderosas e sentem suas existências. Começam a dar nomes a elas, falam de seus descendentes também poderosos, falam dos sentimentos de suas presenças em situações de perigo às quais sobreviveram. 

Para esse povo o cenário da criação começou com o mar, mas alguns mitos referiam-se à terra em seus pés como um fluído, onde os deuses nasciam como plantas, do chão. Várias descendências de deuses ocorreram até dois deles, um masculino e um feminino, querendo criar o mundo, precisamente aquelas ilhas. Com um arremesso de uma lança ao mar, houve uma solidificação dos respingos na água dando origem às mesmas. 

Esse casal de deuses resolveu ir morar nas ilhas, criando rochas e montanhas, criando outros deuses menores, sendo esses responsáveis pelo aparecimento dos animais e plantas. A natureza estava formada. 

O deus feminino veio a falecer ao parir o fogo. Seu esposo foi atrás dela até o país dos mortos querendo a sua volta, mas se perdeu no caminho. Por essa experiência ele se lavou e da limpeza de seu olho esquerdo nasceu a deusa Sol. Do outro olho nasceu a deusa Lua e do nariz o deus da tempestade. 

Divindades surgiram de outras partes de seu corpo. Uma foi incumbida de governar a noite e, outras duas, o mar e o céu. O governador do mar não fora competente em sua tarefa, sendo afastado dessa tarefa. No exílio conheceu uma jovem, filha de um deus e casaram-se. Deles nasceu uma grande quantidade de divindades e um neto de uma delas foi o bisavô de um imperador, o fundador do primeiro estado... Japonês! 

Sim, eu estava todo esse tempo falando simplificadamente do surgimento do xintoísmo, a religião japonesa, reconhecida como tal somente no século sexto. Houve fusão de várias ideias entre o Xintoísmo e o Budismo, influências taoístas e confucionistas, conforme o Japão foi-se desenvolvendo e seu povo entrando em contato com outras civilizações, principalmente da China. 

O Xintoísmo fala de duas almas quando um ser humano nasce, uma vinda do céu e outra da Terra. Na morte cada uma delas volta de onde veio e a da Terra será julgada pelas atitudes em vida. Sentenciada a servir no inferno, devido às suas falhas, após o cumprimento da pena ela renasce na Terra ou se torna um demônio. Tornam-se espíritos como recompensa quem fizeram o bem em suas vidas. Desses, alguns tornam-se guardiões de lugares específicos, outros irão guiar seus descendentes e existem aqueles enviados a servirem aos deuses das cidades. Poucos são deificados. Isso se realizarem feitos excepcionais.
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A religião japonesa foi considerada pelos Estados Unidos e os aliados como uma das principais fontes de inspiração nipônica militar e expansionista durante a segunda guerra mundial. Então, cuidaram de neutralizá-la chegando a proibir qualquer apoio oficial de órgãos públicos a partir de 15 de dezembro de 1945. Não se consegue retirar totalmente de um povo uma religião a partir de decretos e apesar de dividir espaço atualmente com o cristianismo, confucionismo, taoísmo e budismo, ela continua sendo a religião com o maior número de seguidores. Isso porque o xintoísmo é a essência do Japão, da sua cultura, como uma religião de berço, indígena, própria, nascido em suas ilhas com tradição milenar. 

Daria para acreditar que eu estava falando de um fato nativo como um dos fatores da grandiosidade da cultura e sociedade japonesas, desde os primeiros parágrafos? Claro, alguma elucubração eu fiz quanto do cenário indígena e fatos possíveis acontecendo nesse tipo de sociedade. Mas os deuses existiram, existem (para eles) e omiti os nomes para não se desconfiar logo de início da minha intenção em transmitir, com este pequeno texto, a força das crenças, sendo absolutas em todos nós, mas as formas das religiões surgidas a partir delas são bem diversificadas. Fiz como exemplo o Japão, uma superpotência, onde as raízes da sua cultura e sociedade podem parecer tolas, ingênuas para muitos de nós! Daí o relativismo religioso. (1) 

O “acreditar” e tudo derivado dele, incluindo a fé, é uma força evolutiva muito poderosa em nós humanos. Ela molda nossas sociedades e nosso modo de vermos o mundo a partir do momento das nossas criações de mitos, crenças, regras de conduta social, deuses ou deus. 

Podemos ver que as religiões, nascidas dessa nossa capacidade de acreditar e sentir tem muito a ver até com a geografia do local de nascimento. No Japão existem muitos vulcões – montanhas – e os deuses masculino e feminino, respectivamente, Izanagi e Izanami, foram quem criaram as rochas e as montanhas. E também foram quem arremessaram as lanças das quais os respingos no mar fizeram surgir ilhas tão comum aos nipônicos. Afinal, o Japão é um conjunto delas. 

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Nota: 

01 - Comento da necessidade do povo nativo daquelas ilhas em compreender tudo ao seu redor, de estarem limitados por água em todos os lados, fatos os quais, antes do surgimento das embarcações por eles produzidas, eram realmente muito sérios em suas vidas. Suas terras seriam inundadas? Havia outros locais mais seguros? Por que estavam fadados a viverem e morrerem somente ali? Para um povo ainda muito ignorante, estas e outras muitas questões passíveis de imaginarmos, eram um verdadeiro pesadelo para eles. Nada como emoções e sentimentos ligados à imaginação para criarem deuses e fatos a deixarem as suas condições humanas bem confortantes... 


Referência: 
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1 – Argos Arruda Pinto. O Relativismo religioso e o que existe por trás disto. 2007. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/2007/03/o-relativismo-das-religies-e-o-que.html >. Acesso em: 10/10/2018.

sábado, 24 de março de 2018

Uma interpretação minha sobre resultados experiências de Andrew Newberg - Atualizado

Escrito em: 24/03/2018. 

Atualizado em: 19/08/2025 

 

Introdução 

 

Este artigo foi escrito baseado na página de pesquisa do site < http://andrewnewberg.com/research > do neurocientista estadunidense Andrew Newberg (1966-), sendo resultado de suas experiências com o psiquiatra e antropólogo também estadunidense Eugene d'Aquili (1940-1998), e de um artigo de Newberg e colaboradores com as devidas referências. Não são muitas as informações contidas no site de Newberg, mas, além de importantes na neurociência, são também famosas porque descrevem alguns resultados e ideias dele sobre monges budistas tibetanos e freiras franciscanas, meditando e orando, respectivamente, sendo os cérebros escaneados pelo equipamento eletrônico sofisticado SPECT (tomografia computadorizada por emissão de fóton único). Faço analogias com o que eu havia escrito e escrevo nos meus blogs sobre o relativismo religioso, as crenças e as religiões, para os quais eu deixei maiores detalhes destes assuntos nas notas um e dois.  

 

O artigo 

 

Uma das razões por que escrevi e escrevo sobre este assunto é devido a minha sempre vontade de analisar o ser humano como ele é, sua natureza, para depois analisá-lo com respeito às influências do meio ambiente social no qual vive. As experiências de Andrew Newberg com monges budistas e freiras católicas confirmaram minhas expectativas sobre o relativismo religioso. * 

Andrew Newberg, com todas as experiências que fez, cunhou o termo neuroteologia, uma nova disciplina, um ramo da neurociência a se estudar o que acontece com o cérebro quando das experiências religiosas e meditações.  

 

No item da página no site de Newberg "Why do we believe what we believe?" (Por que acreditamos no que acreditamos?), é dito: "[...] nossas crenças começam a se desenvolver no momento em que nascemos e somos pré-programados para acreditar em certos aspectos. No entanto, essas formas são moldadas por tudo o que pensamos, sentimos e experimentamos ao longo da nossa vida [...]". A educação das crianças pelos pais e a influência dos parentes e amigos, ou seja, o meio ambiente social, termo que uso muito, influencia nas crenças que as crianças, salvo exceções, levarão para o resto das vidas delas. São os poderosos valores religiosos passados a nós como verdades absolutas da religião na qual, principalmente os nossos pais, sendo adeptos, passaram para nós. No Cristianismo: Deus, Bíblia, Os Dez Mandamentos (que possui até regras de condutas sociais como "não roubarás", "não matarás", etc.), a oração "O Pai Nosso", a oração "Ave Maria" etc. São valores muito intensos, os quais, quando evocados, levarão as pessoas a estados mentais também intensos, percebendo-se pelas experiências de Newberg, modificações em estruturas e/ou funcionais em áreas cerebrais, a neuroplasticidade. (1)  

 

Ainda no mesmo item anterior você poderá ler: "[...], mas também podemos ter crenças sobre [o] significado e propósito na vida, sobre religião e sobre as profundas complexidades do universo. Como nossas crenças são tão importantes para nossa sobrevivência, temos uma tendência a manter essas crenças muito fortemente, mesmo quando apresentadas com opiniões ou fatos opostos [...]". E aqui está um dos maiores argumentos das minhas ideias na qual eu digo da importância para nós seres humanos, da época em que a consciência nos apareceu e mostrou, junto a nossa inteligência, o quão difícil seria entender questões muito complexas e aterradoras para um ser se ele não acreditasse em nada e que menciono em vários artigos meus: "qual o sentido da vida?", "para onde vamos após a morte?", "quem somos nós?", "quem nos criou em primeiro lugar? (pois nos deparávamos com o fato de mulheres gerando filhos e quem haveria gerado a primeira mulher?)", "existe vida após a morte?", "existe o bem, mas também o mal, e por quê?", etc. Questões essas podendo levar a desequilíbrios emocionais aos primeiros homens, repito, inteligentes e conscientes de si e do mundo que os rodeavam, as quais a nossa espécie poderia perecer por não poder levar uma vida plenamente quanto aos fatores indispensáveis à perpetuação como, por exemplo, a reprodução.  

 

Então os nossos valores religiosos, nossas religiões, estariam ligadas à evolução humana? Sim, como é mencionado no item "Are we ‘hard-wired’ for God?” (Somos ‘ligação’, ‘fio’, para Deus?): "[...] No entanto, o que podemos dizer é que o cérebro tem duas funções primárias que podem ser consideradas de uma perspectiva biológica ou evolutiva. Essas duas funções são automanutenção e auto transcendência. O cérebro realiza essas duas funções ao longo de nossas vidas. Acontece que a religião também realiza essas duas funções. Então, do ponto de vista do cérebro, a religião é uma ferramenta maravilhosa porque ela ajuda o cérebro a desempenhar suas funções primárias [...]". (2)  

 

Newberg constatou, durante a meditação dos monges, o seguinte fato descrito no item "How do meditation and prayer change our brains?" (Como a meditação e a oração mudam nossos cérebros?): "[...] quando escaneamos os cérebros dos meditadores budistas tibetanos, encontramos diminuição da atividade no lobo parietal durante a meditação [...] esta área do cérebro é responsável por nos dar uma sensação de nossa orientação no espaço e no tempo. Nós levantamos a hipótese de que o bloqueio de todas as entradas sensoriais e cognitivas nesta área durante a meditação está associado à sensação de não espaço e sem tempo tão frequentemente descrito na meditação [...]". 

 

Os budistas acreditam em uma lei de interdependência entre todas as coisas no Universo, na Terra. (3) Nos estados mentais produzidos nos monges, eles se sentiram em comunhão com o meio ambiente, não havendo espaço separando-os desse próprio meio. 

 

Vince Rause foi colaborador de Andrew Newberg e Eugene d'Aquili para escrever o livro "Why God Won't Go Away" (Por que Deus não Vai Embora?), sem tradução ao português. Na verdade, ele foi responsável de passar de forma mais simples as palavras, expressões etc., dos outros dois para o público mais leigo. Ele almoçou com Newberg quando este explicou basicamente sobre as pesquisas e resultados que levariam ao livro e relatou os principais pontos da conversa para o Los Angeles Times, em uma edição de 15/07/2001. (4) Em suas palavras: 

"Nos experimentos, Newberg e D'Aquili usaram uma tecnologia chamada varredura SPECT para mapear os cérebros de vários budistas tibetanos enquanto mergulhavam em estados meditativos. Mais tarde, eles fizeram o mesmo com as freiras franciscanas que estavam engajadas em oração profunda e contemplativa. As varreduras fotografaram níveis de atividade neural no cérebro de cada sujeito quando essa pessoa atingiu um pico espiritual intenso. Os budistas normalmente descreviam esse momento como uma fusão em uma unidade maior e uma sensação de perder o eu. Os franciscanos descreveram isso como uma sensação de um eu mais profundo e verdadeiro sendo atraído para a unidade com Deus. Quando estudaram os exames, a atenção de Newberg e D'Aquili foi atraída para um pedaço do lobo parietal do cérebro que eles chamaram de área de associação de orientação. A área é responsável por definir os limites do eu físico e por gerar as percepções do espaço no qual esse "eu" pode ser orientado. Em termos mais simples, traça a linha entre o eu e o resto da existência. Esta é uma tarefa de complexidade impressionante, que requer um fluxo constante de informações neurais que fluem dos sentidos. O que os exames revelaram, no entanto, foi que nos momentos de pico de oração e meditação, o fluxo de impulsos neurais para o lobo parietal era drasticamente reduzido [...] O que Newberg e D'Aquili haviam capturado, ao que parecia, eram instantâneos do cérebro se aproximando de um estado de transcendência mística, que todas as religiões conhecidas descreveram, em vários termos, como a mais profunda de todas as experiências espirituais. Os budistas chamam isso de ‘unicidade’.  É a ‘união mística’ com Deus descrito pelos santos católicos. Para os hindus, é a união do ‘Último’ [final, último, derradeiro, definitivo, irrevogável] com ‘Atman’ [a alma, espírito ou sopro de vida], respectivamente, ‘Brahman-Atman’, e para os místicos islâmicos se reflete nos conceitos de aniquilação e renascimento (‘fana’ e ‘baqa’), que levam, através da entrega espiritual, a uma união íntima com Deus". Diga-se, de passagem, melhor descrito mais abaixo, Deus é o mesmo para cristãos e muçulmanos, e Brahman-Atman não se trata do deus do Cristianismo. Segundo o mestrando em Metafísica Danillo Camillo César, em 2020, pela Universidade de Brasília (UnB), (5), com respeito à antiga filosofia indiana, o Bramanismo, a base, a coluna principal desta cultura milenar onde hoje é a Índia e regiões próximas, e que hoje é chamado de Hinduísmo, é imprescindível o estabelecimento, em qualquer discussão sobre o Bramanismo, dos conceitos de Brahman e Atman, para se investigar a realidade.  

 

Veja que os monges e as freiras tiveram a mesma área cerebral afetada, mas as interpretações daquilo que sentiram foram de acordo com os próprios valores religiosos (das freiras) e dos ensinamentos de Buda (dos budistas)! Com tudo aquilo que aprenderam e que se tornaram valores religiosos absolutos e de ensinamentos para eles, inclusive sendo uma grande evidência do relativismo religioso. Nenhum deles interpretou como valores religiosos de outras religiões ou crenças, ou ainda que seus sentimentos e emoções, pelas experiências, não estavam de acordo com as próprias crenças desacreditando as experiências. Isto para mim faz parte do relativismo religioso, em que cada um considera os seus valores como absolutos, não acreditando e até desprezando os valores das outras religiões, mas, na realidade, são relativos. Se Deus fosse absoluto, a Verdade Absoluta, por que Ele não apareceria nos comentários dos budistas? E por que as freiras pensaram no Deus cristão sem citar nenhum outro valor religioso de outra religião? (6) Ele estaria mostrando ao mundo que existem realmente muitos deuses e entidades diferentes, todos ao mesmo tempo!  

 

Ele chegou a escrever um artigo, com outros dois cientistas, intitulado "Comparison of Different Measures of Religiousness and Spirituality: Implications for Neurotheological Research" (Comparação de Diferentes Medidas de Religiosidade e Espiritualidade: Implicações para a Pesquisa Neuroteológica) (7), em 2019, com a finalidade, segundo eles mesmos de: "[...] revelar uma variedade de dados interessantes sobre aspectos subjetivos de crenças religiosas e espirituais que poderiam ser utilizados para desenvolver estudos futuros de tais crenças, bem como avançar estudos neuroteológicos explorando a conexão entre os processos cerebrais e o emocional, elementos cognitivos e experienciais dos fenômenos religiosos e espirituais [...]". Eles compararam vários questionários [com pessoas de diferentes religiões] subjetivos, "avaliando dimensões neuropsicológicas da religiosidade", como disseram. Também pelo fato da neuroteologia ser de caráter multidisciplinar e, portanto, querer se buscar metodologias eficientes, poderosas, para este "campo distinto de estudos que incorpora ideias filosóficas e teológicas, crenças e práticas religiosas e espirituais, tópicos sobre a mente e a consciência humanas e aspectos relacionados à saúde e bem-estar humanos". 

 

Basicamente é isto, mas algumas das frases e métodos deles me chamaram a atenção. Irei até enumerá-los a fim de maior clareza: 

1 - Como é descrito no artigo: "A identificação religiosa foi a seguinte: 34 católicos, 60 protestantes, 33 outros cristãos, 15 judeus, 12 muçulmanos, 17 pagão-terrestres, 98 ateus e 96 que se identificaram como de espiritualidades diferentes". Somando os católicos, protestantes, outros cristãos, judeus, muçulmanos, e, dos 96 de espiritualidades diferentes, não significando que dentre estes não há um sequer que não acredita em Deus, a grande maioria são de pessoas crentes em Deus. Então, sobre o principal valor religioso, um deus, se teria certamente respostas, crenças, valores etc., no deus cristão; 

2 - O primeiro resultado é relatado assim: "Das pessoas pesquisadas que afirmaram estar praticando uma religião atualmente, 84% responderam que acreditavam em Deus, 11% responderam que não acreditavam em Deus e 5% não responderam". Pelo item um, este resultado é óbvio pois as pessoas são em grande maioria crentes em Deus; 

3 - O segundo resultado diz: "Esta é uma descoberta intrigante, pois as pessoas que praticam uma religião acreditam em Deus [...]". Por que intrigante se católicos, protestantes, "outros cristãos", judeus e muçulmanos, possuem Deus como o maior valor religioso? Nenhum destes seriam adeptos de suas religiões se não acreditassem em Deus. Isto é óbvio. 

4 - Houve resultados gerais que comento dois: "[...] e pessoas que acreditam em Deus que não praticam religião [...]". Conheço muitas pessoas assim; é muito comum, inclusive elas respeitam e muito as práticas cristãs, e, eventualmente rezam ou realizam preces; 

5 - Eles chegaram também em duas porcentagens fáceis de entender: "[...] Das pessoas que atualmente praticam o Budismo, 30% responderam que acreditam em Deus, e dos indivíduos que praticam filosofias seculares, 50% responderam que acreditam em Deus [...]". Influência dos meios nos quais vivem, principalmente se for aos EUA ou em outros países ocidentais. Embora este resultado não seja mencionado onde eles vivem, provavelmente é nos Estados Unidos, pois não precisariam ir buscar em muitos lugares do planeta para tanto, inclusive para diminuir custos; 

6 - Por outro lado, deixei esta por último: "[...] Descobertas significativas foram que 100% dos protestantes e muçulmanos praticantes afirmaram que acreditavam em Deus [...]". Ora, protestantes são cristãos e os muçulmanos acreditam em Deus, o mesmo do Cristianismo, porque a primeira condição essencial, indispensável, para ser um protestante ou um muçulmano, é acreditar em Deus! Caso contrário essas pessoas não pertenceriam a essas religiões. Evidente a diferença entre estas duas religiões em outras crenças como, por exemplo, a respeito de Cristo, o qual Ele é um messias no Cristianismo, filho de Deus, e apenas um profeta em nível terreno, sendo Maomé a principal figura do Islamismo, ao qual o anjo Gabriel lhe passou versos do próprio Deus, resultando mais tarde no Alcorão, o livro sagrado do Islão. 

 

Este meu artigo é, evidentemente, sério, mas, Newberg, que me perdoe você leitor, colocar uma informação assim tão óbvia em um artigo de nível mundial é uma palhaçada! Seria apenas uma informação comum, trivial, a ser apenas, talvez, arquivada. 

 

Andrew Newberg se concentrou apenas na religião cristã, nos valores cristãos, desde as experiências com as freiras, sendo os budistas praticantes de meditações, com um ou outro que acredita em Deus, mas também podem acreditar em outros deuses como aqueles do Hinduísmo, e nesses estudos relatados nos primeiros parágrafos acima, direcionaram claramente para os valores do Cristianismo. Ele se tornou um cientista muito famoso, rico, escreveu dez livros e mais de 200 artigos sobre as suas pesquisas, ganhou muito dinheiro inclusive como palestrante. Sua carreira seria arruinada se apresentasse ao mundo resultados diversos com religiosos diferentes relatando contatos, sensações, com deuses diferentes de Deus.


Vince Rause disse sobre o Hinduísmo no depoimento ao Los Angeles Times e até hoje não se fez experiências com eles e acredito que nunca farão. Pelo menos Andrew Newberg. Talvez Rause levou uma bronca dele pelo fato de comentar da também união com Brahman-Atman e o que existe em todas as religiões com a frase "[...] O que Newberg e D'Aquili haviam capturado, ao que parecia, eram instantâneos do cérebro se aproximando de um estado de transcendência mística, que todas as religiões conhecidas descreveram, em vários termos, como a mais profunda de todas as experiências espirituais [...]". Brahman-Atman é um "conceito" bem diferente, pelo menos em grande parte, do Deus cristão, quer dizer, hinduístas nas experiências de Newberg não mencionariam algo exatamente como "comunhão com Deus".  

 

Newberg sabe muito bem da importância dos valores religiosos e das religiões, como qualquer pessoa, diferentes entre si com alguns aspectos iguais ou parecidos, para os seres humanos de todas as épocas e locais.

Colocou a ambição pessoal na frente do desenvolvimento da ciência.


P. S.: 19/08/2025 

 

Vejam o vídeo com o link depois deste texto: 

 

Um médico relatando o que acontece com uma região do cérebro, o lobo pré-frontal, durante orações. Há um aumento do tamanho em oito semanas, a neuroplasticidade, mas que não citaram no vídeo. Pois bem, ele fala no "ponto de Deus" no cérebro, "uma chave de ignição que Deus deixou ali". Um entrevistador disse " ... Deus já colocou isso inato no ser humano." 

 

Na verdade, o médico citou experiências do neurocientista estadunidense Andrew Newberg conforme o tema do texto.  

Ninguém no vídeo se referiu às outras religiões ou outros deuses e entidades sobrenaturais. E se colocassem hinduístas, xintoístas japoneses, tauistas etc., nessas experiências? Seria o "ponto de Deus" cristão? Acredito, e sei que qualquer um acreditaria que cada pessoa dessas religiões apontariam o lobo pré-frontal como tendo o "ponto dos deuses das próprias religiões"... Nunca seria o "ponto de Deus" pois nenhum outro acima é cristão, pertencente ao Cristianismo., apenas o médico e os dois entrevistadores. 

 

 

 

Nota

 

(*) No relativismo religioso eu considero as diferenças entre as religiões como fundamental para entendê-lo. Veja a referência (8). 

O relativismo religioso diz haver apenas uma religião verdadeira entre todas as outras. Como pode tamanha pretensão se se as outras não fossem verdadeiras, os adeptos abandonaram a todas por não serem eficientes, benéficas a si mesmas? Simplesmente haveria uma tendência a desaparecer. Acredito nisso! Uma pessoa acredita na própria religião e nos seus valores religiosos como absolutos, corretos em relação às outras, sendo essas outras religiões também crentes da mesma maneira, ou seja, na realidade, é tudo relativo. Simplificando, cada religião se acha a correta. Existe somente de absoluto no ser humano, desde quando nasce, a capacidade de acreditar, possuir fé, mas, em quê? Naquilo posteriormente ensinados como valores religiosos em seu meio ambiente social. Para cada povo, em todo lugar e época, criaram-se valores religiosos e passaram de pais para filhos, nos próprios ambientes sociais, ensinamentos nos quais eram absolutos para eles. O meio ambiente social é tudo aquilo influenciando o desenvolvimento de uma criança, os pais, amigos, parentes, escola etc. A religião faz parte e desde muito cedo, além de ensinamentos pelas pessoas, ela irá se deparar com inúmeras situações nos quais os valores religiosos serão mencionados, reforçados e cobrados por outras pessoas. Por exemplo, ao desdenhar da oração "Pai Nosso" do Cristianismo, a ser pronunciado em classe, um colega poderá dizer: "Isso é pecado. Fica quieto se não quiser orar". Valores religiosos podem ser, e são, muito diferentes entre si, como, por exemplo, Ganesha, o deus hindu com corpo de homem e cabeça de elefante, o qual os hindus o reverenciam e muito pois além de ser o deus da remoção de obstáculos, em qualquer tarefa ou trabalho, é aquele ao qual se reza para a prosperidade material. Muitos outros atributos lhe são atribuídos e seria cansativo ao leitor eu colocá-los aqui. Basta essa breve descrição para notarmos o quanto existem diferenças entre as religiões: compare com o Cristianismo. As práticas religiosas ou praticar aquilo nos dado como valores religiosos, como orar, entoar cantos etc., são atividades mexendo com o nosso psicológico porque os valores estão em nossas memórias e carregam consigo uma grande carga de emoções e sentimentos devidos, principalmente ao mencionado antes por mim, sobre tantos anos de educação religiosa. Imagine então você podendo visualizar a atividade cerebral de uma pessoa durante uma oração, ou várias, se concentrando nos próprios valores religiosos. Depois você analisa a atividade do cérebro de outra, mas de uma religião diferente ou crenças diferentes. Seria razoável supor, dependendo dos estados mentais nos quais essas pessoas chegariam, ao fato de interpretarem como sinais, evidências e até realidades sobre suas crenças? Tenho certeza que sim. 

 

No primeiro livro de Andrew Newberg, o já citado "Por que Deus não vai embora", há um, "porém". Deus vai embora sim: basta se parar o ensinamento do Cristianismo no mundo todo, acabar com todos os livros, citações sobre Ele, estudos etc., não se falar mais nele, que as gerações futuras nem saberão e não sentirão nada a Ele relacionado. 


Referências 

 

(1) – Argos Arruda Pinto. O meio ambiente social na formação das crenças religiosas. 2013. Disponível em: < http://orelativismodasreligioes.blogspot.com.br/.../o-mei... >. Acesso em: 19 ago 2025; 

e 

Argos Arruda Pinto. Neurociência e como se formam os valores religiosos em nossos cérebros. 2017. Disponível em: < http://argosarrudapinto.blogspot.com.br/.../neurociencia... >. Acesso em: 19 ago 2025 

(2) – Argos Arruda Pinto. Consciência, amor-próprio, fé e transcendência: a moderna Teoria da Evolução. 2012. Disponível em: < https://orelativismodasreligioes.blogspot.com/2019/10/consciencia-amor-proprio-fe-e.html >. Acesso em: 19 ago 2025 

(3) - Budismo. Nova Enciclopédia Ilustrada Folha. São Paulo. Editora Folha de São Paulo. 1996. 2 v.  

(4) - Vince Rause. The Biology of Belief. Los Angeles Times. 2001. Disponível em: < https://www.latimes.com/.../la-xpm-2001-jul-15-tm-22410... >. Acesso em: 19 ago 2025. 

(5) - Camelo César, D. (2020). ÄTMAN E BRAHMAN: FUNDAMENTOS DA REALIDADE. PÓLEMOS – Revista De Estudantes De Filosofia Da Universidade De Brasília, 9(18), 331–347. Disponível em: < https://doi.org/10.26512/pl.v9i18.29871 >. Acesso em: 19 ago 2025. 

e 

(6) - Argos Arruda Pinto. Por que Deus não "nasce" junto nas cabeças das pessoas? 2015. Disponível em: < https://orelativismodasreligioes.blogspot.com/.../por-que... >. Acesso em: 19 ago 2025. 

(7) - Andrew Newberg, Nancy Wintering, Mark Waldman. Comparison of Different Measures of Religiousness and Spirituality: Implications for Neurotheological Research. Religions 2019, 10(11), 637. Disponível em: < https://www.mdpi.com/2077-1444/10/11/637 >. Acesso em: 19 ago 2025. 

(8) - Argos Arruda Pinto. O relativismo religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões. Disponível em: < https://orelativismodasreligioes.blogspot.com/ >. Acesso em: 19 ago 2025.