Argos Arruda Pinto

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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Psicoterapia, neuroplasticidade e neurorreligação

Introdução.
Neste artigo eu relaciono diretamente a psicoterapia com a neuroplasticidade, mudanças estruturais e/ou funcionais no cérebro, porque é neste ponto que os diversos tipos de sessões com psicólogos irá ajudar a recuperação de pacientes com problemas emocionais dos mais diversos.

Uma ou várias rotas neurais estão ativadas, ou seja, transmitindo correntes elétricas nervosas, ao você ver um cão se dirigindo em sua direção. Elas estimulam regiões cerebrais liberando substâncias químicas em sua corrente sanguínea como a adrenalina, aumentando seus batimentos cardíacos e aumentando a quantidade de sangue oxigenado, deixando-o pronto para correr ou enfrentar o cão. Mas você está também com medo, possui esse medo desde criança quando fora atacado e mordido por um deles e nem se lembra desse fato.

Este é um exemplo clássico de fobia na Psicologia onde a psicoterapia poderá ajudá-lo pois o animal em questão não é nada grande e seu pânico chega a ser absurdo até para você! E como ela poderá ajudá-lo? Através de sessões semanais em conversas com um profissional, um psicólogo.  Com o tempo o medo passa melhorando o seu estado emocional até em lidar com cachorros.

E o quê aconteceu de verdade?

Primeiro temos que recorrer à neuroplasticidade que é a capacidade do cérebro de se reorganizar, mudar mesmo em estruturas microscópicas, conforme estímulos do meio ambiente chegando pelos nossos sentidos e sendo processados.

Alguns fenômenos podem acontecer como o brotamento de axônios ou brotamento axonal, a mudança no número, disposição espacial, densidade de espinhas dendríticas e comprimento de dendritos a receber impulsos nervosos   e  os receptores de neurotransmissores sofrerem alterações em tipo ou número. E também o aprendizado está relacionado com tudo isso, como apareceu em uma fotografia microscópica de um estabelecimento contínuo, ou ao mesmo muito duradouro, de sinapses através de uma grande quantidade de neurotransmissores entre elas. Foi com um camundongo de laboratório, em uma experiência na década de 90 e postada por um jornal de grande circulação nacional, quando aprendeu  o caminho correto a levá-lo a um pedaço de queijo.

O cérebro é um órgão em constante mudanças estruturais. São muito pequenas em sua grande maioria e só com o desenvolvimento de aparelhos eletrônicos sofisticados como a tomografia por emissão de fóton único (SPECT), a tomografia por emissão de pósitrons (PET), a ressonância magnética funcional (fMRI), a ressonância magnética espectroscópica (MRS) e o NIRS (espectroscopia no infravermelho próximo) é que foi possível aos cientistas perceberem fatos antes desconhecidos.

O que se pode explicar bem resumidamente até agora é o fato de uma ou mais rotas neurais, onde são percorridas por impulsos nervosos a chegarem em regiões cerebrais liberando substâncias como descrito no primeiro parágrafo,  onde você ficava desesperado ao ver um cão, tendo agora rotas diferentes devido à neuroplasticidade e desviando os impulsos a outras regiões amenizando seus problemas ao liberarem outras substâncias.

Os estímulos externos, em sua psicoterapia, capazes de realizar tais efeitos foram as conversas com o psicólogo. Você pode, por exemplo, ter se lembrado do ataque do cão quando criança, sendo essa lembrança crucial nas modificações neurais descritas acima, pois uma tomada de consciência como essa irá alterar e demais as suas memórias, emoções e sentimentos, influindo em seus circuitos neurais.

Então, esse é o fenômeno da neuroplasticidade mas a história não para por aqui.

Imagine agora alguém com depressão. Grosso modo é uma grande diminuição da atividade neurônica na pessoa. Fendas sinápticas sem sinapses, sentimentos e emoções negativos dos mais diversos tais como autocomiseração, falta de sentido na vida, angústia, ansiedade, etc.; sentimentos esses que poderão levar tal pessoa ao suicídio. E veja que todos esses sintomas negativos apareceram depois de tal doença, ou seja, não estavam no script com relação ao (s) problema (s) central (is) que levou (aram) à doença, até que um dia os cientistas perceberam que eles apareceriam mesmo, sempre.

Digamos que remédios e psicoterapia são recomendados a esse alguém tão fragilizado, física e emocionalmente, perdendo momentaneamente sua vida social, de trabalho e afetiva (gosto de citar em meus artigos essas três palavras pois resumem 100%, ou algo próximo a isto, nossa vida diária, comum…). Com o tempo o humor, a vontade de viver, a alegria, começam a fazer parte da vida dessa pessoa como antes da depressão, da tristeza, da angústia, etc.

Houve reversão nas anormalidades estruturais ou funcionais associadas a uma certa sintomatologia antes da terapia; em outras palavras, a psicoterapia pode amortecer a estrutura e a função do cérebro, a "psicologia da normalização". Pode também ocorrer que a terapia pode levar a mudanças compensatórias em áreas do cérebro que não apresentaram funções alteradas antes da terapia. São normalizações de padrões anormais de atividade, onde, muitas vezes remédios e psicoterapia juntos podem não surtirem efeitos desejados mas somente uma prática dessas. (1)

É já famosa a experiência com neuroimagens em motoristas de táxis em Londres pois eles passam por um “curso” de dois anos aprendendo sobre o mapa da cidade, ruas, avenidas, pontos turísticos, pontes, igrejas, etc. Eles apresentam um aumento no hipocampo posterior onde é justamente a região cerebral responsável pelos pensamentos, imaginação e memória em três dimensões. (2)

A neuroplasticidade aparece onde há aprendizado, estímulos externos produzindo emoções e sentimentos e, neste caso, como eu falei especificamente da depressão, se a pessoa voltar a ter sua vida social, de trabalho e afetiva de volta, eu chamo de neurorreligação.

Não é à toa que a densidade do cérebro é muito pequena, beirando 1,3 g/cm3,  próxima a da água, 1,00 g/cm3. Modificar uma estrutura bastante gelatinosa é bem mais fácil que outra bem mais rígida.


Bibliografia:

1 - Barsaglini A., Sartori G., Benetti S., Pettersson-Yeo W., Mechelli A. The effects of psychotherapy on brain function: a systematic and critical review. Prog. Neurobiol. 2014 Mar. Disponível em < https://f1000.com/prime/718292548 >. Acesso em: 22/09/2017.

2 - Eleanor A. Maguire, David G. Gadian, Ingrid S. Johnsrude, Catriona D. Good, John Ashburner, Richard S. J. Frackowiak, and Christopher D. Frith. Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC18253/ >. Acesso em: 22/09/2017.