Argos Arruda Pinto

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Neurociência e os outros mamíferos: eles são mais próximos de nós do que você imagina

Palavras-chave: Jaak Panksepp, Universidade de Washington, Mamífero, Animal, Ecologia, Sentimento, Emoção, Neurociência, Teoria da Evolução, Cérebro. 

Introdução. 

"Este artigo, embora de Neurociência, é também um artigo ecológico com respeito aos animais, aos mamíferos. Jaak Panksepp (05/06/1942 - 18/04/2017), neurocientista e psicobiologista estoniano, foi quem cunhou o termo "neurociência afetiva", nome dado ao campo de estudos responsável pelos mecanismos neurais da emoção. Ele ainda foi professor da Faculdade de Veterinária da Universidade de Washington, e nas suas pesquisas pôde descobrir muitas propriedades dos cérebros dos mamíferos em geral relacionadas com emoções. Talvez estamos em uma época na qual o respeito aos animais deverá ser revisto e aumentado ainda mais, como você verá mais abaixo em dois trechos de dois artigos de Jaac Panksepp." (1 e 2) 
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A Neurociência caminha rapidamente descobrindo áreas cerebrais e estruturas microscópicas cerebrais responsáveis direta ou indiretamente pela nossa sobrevivência aqui na Terra. Enquanto a Evolução de Darwin primeiro nos coloca os conhecimentos comportamentais macros dessa sobrevivência, a Neurociência descobre, com estruturas e substâncias químicas produzidas no  cérebro em níveis micros, levando-nos a esses comportamentos. Tudo vem da "maquinaria" cerebral. 
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Já é difícil o público leigo entender a Evolução, principalmente pelo bloqueio religioso em todos os países, colocando os próprios valores religiosos à frente de qualquer postura científica. Imagine então as pessoas aceitarem os nossos processos cognitivos, os sentimentos e as emoções como fatores preponderantes pela nossa sobrevivência no planeta? 
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Eu escrevi um artigo de nome "O porquê dos nossos sentimentos: por que eles existem?" (3) em 2015, mas, foi uma combinação de dois outros chamados de "O porquê dos nossos sentimentos - 01" e "O porquê dos nossos sentimentos - 02" nos anos de 2001 e 2002, respectivamente. De lá para cá notei muitas referências e comentários sobre eles no qual deu para ter uma ideia de como é difícil falar da Evolução em termos do sistema nervoso, do cérebro.
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Os dois trechos dos artigos nos quais eu disse na "Introdução" estão abaixo, nos mostrando o quão importante são os sentimentos e as emoções não só para os outros mamíferos, mas igualmente para nós:
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"Os 'primal affects' [sem tradução para o português brasileiro - talvez 'efeitos primários'] são sistemas intrínsecos de valores cerebrais que informam incondicional e automaticamente aos animais como eles estão se saindo em termos de sobrevivência. Eles servem uma função essencial na aprendizagem emocional. O positivo afeta o índice de 'zonas de conforto' que sustentam a sobrevivência, enquanto os efeitos negativos informam os animais sobre circunstâncias que podem prejudicar a sobrevivência. Sentimentos afetivos vêm em várias variedades, incluindo sensorial, homeostático e emocional (que eu foco aqui). Os sentimentos emocionais do processo primário surgem das antigas regiões subcorticais caudal e medial e estão entre as primeiras experiências subjetivas a existir na face da Terra. Sem eles, formas superiores de 'consciência' podem não ter emergido na evolução cerebral dos primatas [incluindo os seres humanos]. Por causa de infraestruturas neurais 'instintivas' homólogas, podemos usar a pesquisa do cérebro animal para revelar a natureza dos afetos humanos no processo primário. Como todos os vertebrados parecem ter alguma capacidade para sentimentos afetivos primários, as implicações para o bem-estar animal e como tratamos eticamente outros animais são vastas." 
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"Estudos de neurociência afetiva de espécies cruzadas confirmam que os sentimentos emocionais do processo primário são organizados dentro de regiões subcorticais primitivas do cérebro que são anatômica, neuroquimicamente e funcionalmente homólogas em todos os mamíferos que foram estudados [...] Eles são ferramentas ancestrais para viver - memórias evolutivas de tamanha importância que foram codificadas no genoma de forma bruta (como processos cerebrais primários), que são refinadas por mecanismos básicos de aprendizado (processos secundários), bem como por cognições / pensamentos de ordem superior (processos terciários)." 
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A última frase do primeiro trecho, "Como todos os vertebrados parecem ter alguma capacidade para sentimentos afetivos primários, as implicações para o bem-estar animal e como tratamos eticamente outros animais são vastas" reflete a importância de respeitarmos os animais, uma frase ecologicamente correta e muito forte. 
Os "sentimentos emocionais do processo primário [...] são ferramentas ancestrais para viver - memórias evolutivas de tamanha importância que foram codificadas no genoma de forma bruta (como processos cerebrais primários)...". Após essas ferramentas temos, no texto, "...os mecanismos básicos de aprendizado (processos secundários)..." em que o aprendizado não é só lógico, por assim dizer: está relacionado, por exemplo, com a maneira dos mamíferos tratarem os filhotes, com afeto e carinho, sentimentos e emoções, mesmo sendo de uma forma mais simplificada, mas lhes dando proteção e alimentos e até momentos "de lazer", como percebemos em nossos cães ao brincarem com os filhotes e estes com os pais. Então há muito de afetividade nos comportamentos deles, incluindo os mamíferos em geral.
O instinto de uma leoa ao cuidar dos filhotes com carinho é uma programação genética, está em seu genoma, ela sabe como fazer. Se não fosse assim, todos os mamíferos já estariam extintos porque qualquer nova geração de animais é imatura a enfrentar o meio ambiente ao redor. Nós, como eles, nascemos imaturos e precisamos de muito tempo, cuidado, educação, etc., para um dia termos as nossas vidas independentes dos nossos pais. A ligação afetiva de todos os mamíferos com as proles faz a diferença, não deixando nenhum descendente a mercê de um mundo aqui cheio de perigos e desafios.
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E se você juntar tudo isso à descoberta do neurocientista português António Damásio, relatado no livro "O Mistério da Consciência", (4) o fato dos mamíferos possuírem consciência, pelo menos em alguns instantes, é motivo de pensarmos em novos valores a esses animais tão complexos, uma outra abordagem com relação aos "direitos" merecidos por eles. A consciência é, antes de tudo, uma colaboração com a inteligência, pois, falando de nós, além da subjetividade, senciência, sapiência e autoconsciência, a utilizamos em muitas ações e intenções: (Eu) farei isto porque é mais vantajoso a mim (Eu); (Eu) prefiro esse caminho ao outro por diversas razões; Depois de um erro como esse, (eu) pensarei melhor em realizar outro trabalho, etc.
É fácil imaginarmos o quanto de bovinos e suínos, como um exemplo muito próximo, são abatidos por dia para termos carne nas refeições. E as aves também cuidam dos filhotes, possuindo um sistema límbico avançado diante do tamanho dos seus cérebros, mas talvez ainda não são estudadas conforme merecem. 
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Depois de Jaak Panksepp eu me tornarei vegano! 



Referências
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1 - PANKSEPP J. Os circuitos emocionais básicos dos cérebros dos mamíferos: os animais têm vidas afetivas? NCBI - PubMed.gov - US National Library of Medicine National Institutes of Health. Neurosci. Biobehav. Rev. [without changes - sem alterações], 2011. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21872619 >. Acesso em: 14 fev. 2019.
  
2 - PANKSEPP J. Neurociência afetiva do "BrainMind emocional" [sem tradução para o português do Brasil]: perspectivas evolutivas e implicações para a compreensão da depressão. NCBI - PMC. US National Library of Medicine National Institutes of Health. Dialogues in Clinical Neuroscience. [without changes - sem alterações], 2010 Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181986/ >. Acesso em: 14 fev. 2019.
  
3 - PINTO, A. A. O porquê dos nossos sentimentos: por que eles existem? 2018. Disponível em: < https://argosarrudapinto.blogspot.com/2018/11/o-porque-dos-nossos-sentimentos-por-que.html >. Acesso em: 14 fev. 2019. 
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PINTO, A. A. O porquê dos nossos sentimentos: por que eles existem? 2018. Disponível em: < https://razaosentimentoemocao.blogspot.com/2018/02/o-porque-dos-nossos-sentimentos-por-que.html >. Acesso em: 14 fev. 2019. 
  
4 - DAMÁSIO, A. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.