Argos Arruda Pinto

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Sobre fé e pirâmides: acredite mais no homem!

Introdução 

Por que os egípcios construíram aquelas enormes pirâmides? Como cortavam aquelas pedras e como as conduziam para alturas de aproximadamente 146 m na maior delas, a pirâmide de Quéops ou a Grande Pirâmide?
  
São comuns até atribuições a seres alienígenas nesses grandes feitos, mas a maioria das pessoas deixam de fazer pesquisas procurando respostas e elas não sabem da diferença entre nós, hoje, e a de povos antigos, de não ser a capacidade cognitiva e sim o fato de recebermos conhecimentos prontos desde a mais tenra idade até o ensino superior. E depois também. Já os antigos precisavam utilizar a pouca tecnologia disponível e muita imaginação, algo subestimado em relação a eles. 

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A região do Rio Nilo desde a época dos homens caçadores coletores sempre foi um verdadeiro oásis, concentrando-se pessoas e começando uma civilização na qual, protegidos pelos desertos da Líbia, à esquerda, à direita o deserto oriental africano, o Mar Mediterrâneo acima e as selvas africanas abaixo, pôde se desenvolver socialmente e politicamente, chegando a uma população de até oito milhões de pessoas ao longo de centenas de quilômetros de extensão. Foi uma das primeiras e uma das maiores civilizações da antiguidade. 

Como em outras regiões do planeta, eles descobriram as técnicas de plantio. Mas o Nilo transbordava de tempos em tempos, as chamadas cheias do Nilo, estragando as plantações e tendo os egípcios a dura tarefa de começar de novo sem saberem quando outras enchentes estariam pela frente. 

Naquela época a Astronomia consistia em uma Ciência puramente de observações e registros das estrelas, da Lua e do Sol, de suas posições no céu, pois não tinham instrumentos a investigar mais a fundo o escuro espaço à noite pontilhado de estrelas. Astrônomos dedicavam décadas de suas vidas ao registro sistemático dessas posições e, por talvez um lance de muita sorte, um deles percebeu a presença da estrela Sírius, a mais brilhante do céu, para eles outro nome, "Sopdet", situando-se próxima ao horizonte de onde ele ficava na época das cheias.* Isso sem falarmos dos planetas Vênus, Saturno e Júpiter, mais brilhantes, só que com posições muito variadas pois são planetas, estão mais próximos, e eles não sabiam. Então esse astrônomo contou quantas noites se passavam até Sírius aparecer novamente próxima ao horizonte. Qual não fora o resultado da contagem? 365 vezes! Sim, a base do nosso calendário! 

Tendo esse conhecimento, os egípcios começaram a fazer canais a irrigar as plantações durante essas enchentes e, além de areia, encontravam pedras em suas escavações. Aprenderam durante dezenas ou centenas de anos a trabalhar aquelas pedras e, com isso, começaram a construir templos, mastabas, e... pirâmides! Destas duas, as mastabas eram túmulos de nobres e faraós e, a Grande Pirâmide, entre outras, túmulo para um só faraó. 

Existe uma gravura (1) na cidade de Tebas, uma das capitais do reino egípcio e uma das mais importantes daquelas épocas, datado de 1.500 a. C., onde se exibe um grupo de trabalhadores, nivelando uma pedra para algum fim. Os escopros mostrados ali são instrumentos com metal cortante, parecidos com os pequenos machados de hoje e serviam para cortar as rochas, enquanto os maços eram instrumentos utilizados na nivelação das pedras. 

Muitos mitos surgiram a respeito dessas pedras. Uma agulha não penetraria no vão entre elas denotando uma tecnologia "extraterrestre". Ora, uma agulha encontra um pouco de rugosidade entre as pedras e não avança mais.
  
Uma questão importante e também muito mal pesquisada e, digo eu, não imaginada por quem não procura por respostas racionais, seria o deslocamento das pedras e o fato deles chegarem ao alto desses grandes edifícios. 

As pedras não tinham todas, 15 toneladas ou mais como muitos dizem, e, sim, de 2 a 3 toneladas cada uma em sua grande maioria. Já vi gravuras egípcias em livros, e até peço desculpas ao leitor por não colocar aqui alguma referência, de pedras sendo deslocadas em cima de vários caules roliços de árvores, com vários homens a puxando com uma corda, e, outros, incumbidos de pegarem os caules que ficavam para trás e os colocando na frente. E ainda uma mulher jogando um óleo de palmeira nativa das margens do Nilo a promover um deslizamento das pedras nos caules.
 
Em um site de um jornal na internet (2) descobri o seguinte relato também com respeito ao deslocamento de estátuas e pedras: "Os egípcios colocavam os blocos e as estátuas em trenós puxados por trabalhadores sobre a areia do deserto. Na frente de um trenó carregado, a água ia sendo derramada sobre a areia, de modo a tornar a terra bem firme" ... "Na presença da quantidade correta de água, a areia do deserto molhado é cerca de duas vezes mais dura do que a areia seca. E o trenó desliza muito mais facilmente sobre a areia molhada, simplesmente porque a areia não se acumula na frente do trenó como faz no caso da areia seca".
  
E para conduzi-las ao alto das pirâmides? Eles utilizavam de planos inclinados pois tinham a matéria-prima necessária a conduzir as rochas através deles, acima e a qualquer lado ou inclinação, elevando e desfazendo quando queriam: areia! Existe quase um consenso hoje da realização de planos inclinados em espirais com ângulos retos nas laterais das mesmas; o resto foi como eu disse nos dois parágrafos anteriores.
                                                                 
Outra questão fala da distância dos locais onde se trabalhavam as pedras até as pirâmides. Grandes ou não, essas distâncias seriam vencidas por barcos. Uma civilização de milênios às margens do Nilo teria barcos nesse sentido. 
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Mas o mais importante fato deixado por mim para o final deste artigo e sendo a resposta da primeira pergunta na "Introdução", tem a ver com algo não muito comentado. As pirâmides foram construídas por um ato de fé! Sim, a fé. Como assim? 
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Os faraós, pela religião politeísta dos egípcios, eram considerados filhos de deuses na Terra, ou seja, deuses também. Como disse o grande historiador estadunidense Edward Mcnall Burns: "O faraó era o representante vivo da fé na terra e, através da sua lei, mantinha-se a lei do deus. Prevalecia, também, a crença de que a mumificação do corpo do faraó e a sua conservação em um túmulo eterno contribuiria para a eternidade da nação". (3) 

Dezenas, centenas de milhares de egípcios, ou milhões no total, durante mais de 20 anos, participaram da construção de Quéops, cedendo dias dos seus respectivos trabalhos individuais em louvor ao faraó. Essa fora a grande força impulsionadora de tamanho evento. 

A fé é um sentimento puro, mas canalizada nas reflexões e orações aos valores religiosos da própria religião dos seus adeptos. A intensidade emocional desprendida em orações e/ou reflexões nos valores religiosos de cada religião é igual a todas elas.  
Imagine o que nós, cristãos, não faríamos por Jesus Cristo se Ele estivesse vivo em carne e osso, em algum lugar na Terra, HOJE?                   
             
      
Nota: 

(*) Existem algumas dúvidas se era realmente Sírius, mas havia sim uma estrela bem registrada por eles próxima do horizonte, na mesma direção e sentido sempre, pouco antes das cheias.  


Referências 


2 - Paulo Gurgel Carlos da Silva. GGN. Disponível em: < https://jornalggn.com.br/noticia/o-truque-egipcio-para-transportar-pedras-para-as-piramides >. Acesso em: 19 dez. 2018.  
                                                                                                                      
Editora: Globo. 1977. p. 69-70. Disponível em: < https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/burns-historia-da-civilizacao-ocidental-vol1.pdf >. Acesso em: 20 dez. 2018.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O porquê dos nossos sentimentos: por que eles existem?


Publicado em: 18/01/2015. 
Revisado em: 09/12/2018. 

Introdução 
Sentimentos e emoções existem apenas para o nosso prazer, satisfação em termos de paixões, grandes amores, amizades, felicidade, momentos agradáveis dos mais diversos, etc., excluindo os sentimentos negativos? (1) Não! Há uma razão profunda, complexa, envolvendo todo o funcionamento do nosso cérebro, tornando a nossa vida plena de comportamentos a nos ajustarmos a qualquer ambiente natural, ou outros e nas relações sociais. A Evolução não se manifestou em nossos corpos apenas, mas também no sistema nervoso como um todo, incluindo, então, o cérebro. 

Palavras-chave: evolução, sentimentos, emoções, Darwin, mamíferos, consciência, cérebro, sobrevivência, neurociência. 

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Abstract 
"Feelings and emotions exist only for our own enjoyment in terms of passion, love, friendship, etc. Would that exclude any negative feelings? No! There is a deep and complex reason involving all the functions of our brain that has been evolved, turning our lives full of behaviours to either be adjusted to any natural environment, or not, and to the social relations." 

Wordkeys: evolution, feelings, emotions, Darwin, mammals, consciousnes, brain, survival, neuroscience. 

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Parte I 

Qual a razão dos sentimentos existirem? Por que somos seres racionais e emocionais e não apenas racionais? 
  
A resposta a estas perguntas poderá, inicialmente, soar estranha e aparentemente sem sentido ao leitor, mas está relacionada com a mais poderosa força inerente à condição humana no planeta: a sobrevivência da espécie. 

O conceito de sobrevivência, entretanto, deve ser tomado de maneira mais ampla quando se refere a nós, humanos, pois comer, beber, dormir e procriarmos não bastam. É como se extrapolássemos estes quatro requisitos básicos para sobrevivermos. Precisamos de mais. E este mais está ligado ao nosso bem-estar físico, mental, felicidade e satisfação. 

Sentimentos e emoções são em grande número em nossas mentes; eles afetam nossos corpos, nossos comportamentos, as nossas vidas. Não há espaço aqui para explicar um a um com base na sobrevivência de nossa espécie como animal. Darei exemplos de alguns. Importante realçar também o caráter "estatístico" deste capítulo, no sentido ao qual estarei falando de características de populações. As características de um indivíduo podem representar uma tendência em toda uma população, uma maioria, nas quais as exceções não importam. Quando eu falar de algum sentimento ou emoção, você leitor deverá pensar em termos amplos, gerais. Por exemplo, se digo: o amor é uma força de ligação, a mais importante entre pais e filhos e sem a sua presença a raça humana já estaria extinta, excluo os poucos casos nos quais os filhos foram abandonados ao nascer ou quando crianças. Por outro lado, devemos compreender, sobre o amor, a sua ampla natureza em termos dos nossos comportamentos: certa vez desacreditei um rapaz ao contrariar sua "certeza" em não ver nenhuma vantagem evolutiva nas pessoas que amam. Grande simplificação! Posso amar uma mulher e não querer ter filhos com ela, mas, para um existem outros milhares ou milhões desejosos de formar uma família com a mulher amada. Acontece também com as mulheres. Inclusive somos muito versáteis neste sentido: um casal se separa depois dos filhos se tornarem adultos. Tanto o homem quanto a mulher poderão buscar outro amor ou paixão como eu disse em se procurar o bem-estar. Um casal com filhos adolescentes se separa e ambos procuram novos (as) parceiros (as) em um novo casamento, fato muito comum. Alguns cônjuges divorciados não terão mais filhos enquanto outros sim. E existem muitos outros casos sobre este tema mostrando, digamos assim, uma certa aceleração na quantidade de crianças no mundo, em relação ao fato de não se querer filhos em apenas um casamento, uma vez, em um só relacionamento. 

A Evolução de Darwin sempre fora mal explicada e mal aceita por muita gente. No começo do século XX, aqui no Brasil, era proibido falar nela nas escolas; havia preconceito em todos os países, mas, entre os cientistas ela simplesmente só evoluiu desde a sua concepção no século XIX. Isto criou um abismo entre os conhecimentos da Ciência nesta área e as ideias, pensamentos, suposições, etc., das pessoas comuns em pensar e imaginar sobre como os seres vivos se modificam, se adaptam, sobrevivem, etc. E tudo isso se relaciona apenas com os corpos desses seres; imagine quanta ignorância existe quando se entra na correspondência entre a Evolução e a mente. 

Os seres vivos mais complexos do planeta, aves e principalmente mamíferos, possuem cérebros altamente complexos e adaptados para conseguirem sobreviver aos estímulos negativos, destrutivos do meio ambiente. Insetos, peixes e répteis nascem em um estágio de maturidade o suficiente para se locomoverem e explorarem o mundo exterior; fora isto, o número de filhotes é grande o bastante para nem todos serem devorados pelos predadores. O fato é diferente com os mamíferos: poucos filhotes e frágeis, necessitando-se de uma longa jornada de aprendizagem sobre seu ambiente, para um dia enfrentarem sozinhos os perigos deste mesmo ambiente e procriarem. Aí entram os sentimentos e as emoções. Alguns são básicos e compartilhamos com seres menos complexos: o medo e a agressividade. O medo é importante porque é um sinal de alerta, de algum perigo no meio; quem sobreviveria se não tivesse medo de nada? Seria suicídio em muitas situações perigosas! É necessária a existência de agressividade porque nada pode ser só passivo; enfrentar algum perigo, uma ameaça, requer também respostas passando, às vezes, pela agressividade. Em especial nos seres humanos, a natureza foi "caprichosa" no aspecto emocional: sentimos alegria, tristeza, ódio, paixão, raiva, satisfação, amor, afeto, fé, esperança, etc. Mas todos esses estados foram selecionados pela Evolução. 

Temos a capacidade de procurar sexo mesmo sem a intenção de procriar. Procuramos porque gostamos, porque faz bem, porque nos satisfaz. Chegamos ao ponto de nos deliciar com um prato só para nos satisfazer mesmo sem estar com fome, ou seja, sem a necessidade momentânea de sobrevivência; por puro prazer. Procuramos coisas como viajar, sair, encontrar alguém para namorarmos, nos divertirmos, porque faz parte do nosso lazer, do nosso bem-estar. A palavra gostar está sempre presente; os sentimentos estão sempre presentes. 

Existe o trabalho... Ele deve ser entendido como uma atividade inerente ao ser humano, mesmo qual for o seu modo ou finalidade: do homem de duzentos mil anos atrás ao perseguir uma presa durante horas, ao homem de hoje em um escritório repleto de aparelhos eletrônicos a ajudá-lo em seu dia a dia, tudo é trabalho. Toda atividade implicando em geração de bens ou realização de tarefas imprescindíveis à nossa sobrevivência, mesmo indiretamente. É o caso das sociedades, quase todas no mundo de hoje, modernizadas, tendo o dinheiro como o fruto do trabalho, algo "simbólico", no qual através dele conseguimos satisfazer as nossas necessidades. Existiria o trabalho para nós se não gostássemos? Se não gostássemos ou se não sentíssemos nada com os seus frutos? Não existe somente o ato de trabalhar; sentimentos e emoções, conquistas nos levando a satisfações extremamente benéficas a nós estão em jogo. 

Quero dizer: vivemos procurando atividades, conquistas, coisas que nos fazem bem, para a nossa felicidade e bem-estar. Se ora não conseguimos temos outras chances, temos nosso amor-próprio e continuamos a viver, a procurar. Temos fé, esperança, sonhamos. 

Para se capturar um animal faz-se necessário uma boa dose de agressividade e nós utilizamos recursos muitas vezes cruéis, os quais, se fôssemos parar para pensar, não comeríamos sequer um pequeno peixe do mar. Pode-se imaginar o quanto as nossas sociedades cresceram e se desenvolveram às custas de muitas mortes ou exploração, pelas quais nossos ancestrais utilizaram e muito da capacidade humana de destruição para com os inimigos. E destruir envolve muita coisa de negativo. 

Este capítulo pode dar a impressão de que refere à nossa civilização ocidental, consumista, desejosa de prazeres, poder e dinheiro; não é isso. Ele se refere àquilo que os seres humanos possuem em sua natureza íntima, de básico em suas mentes, na qual se criou todas as culturas e civilizações até hoje. Umas foram mais pacíficas; algumas foram mais mercantilistas, enquanto outras se preocuparam com a tecnologia e produção industrial. Mas a sobrevivência do homem se deu até hoje com a combinação de um lado racional com outro emocional. E sobrevivência para o ser humano engloba, além de sua natureza racional, tudo proporcionando satisfação, felicidade, prazer, conquistas, etc. Estados correlacionados com nossas emoções e sentimentos. Retire tudo isto dos humanos e verá a nossa espécie desaparecer. 

Parte II 

Existe uma ordem aparente na evolução animal, uma escala crescente em complexidade nos seres vivos do nosso planeta. De seres unicelulares povoando diversos habitats terrestres, até nós humanos, passando pelos insetos, peixes, anfíbios, répteis, aves e todos os mamíferos, estes últimos menos complexos em relação a nós devido à diferença entre os cérebros de cada um. Em termos somáticos, e até certo ponto no sistema nervoso, somos muito parecidos com eles, do ponto de vista da morfologia, da genética e da bioquímica. É importante lembrar, nesta escala, a não representatividade necessariamente em ordem crescente em complexidade na história evolutiva de cada grupo em relação aos outros. Por exemplo, uma ave é mais complexa que um inseto, mas este pode ser mais novo como espécie. Pode até ocorrer uma diminuição da complexidade ao longo da evolução de uma espécie. 

Atualmente é aceita a origem das novas espécies, sem dúvidas, baseando-se no fato da evolução dos seres vivos, ou seja, se modificando, se adaptando às mudanças no ambiente, etc. Assim, o chamado "modelo padrão" da biologia se consolidou através do casamento entre as descobertas da biologia molecular, da genética e da Evolução. Pode ser argumentado, portanto, sua funcionalidade a todos os aspectos da nossa biologia, inclusive as bases para os nossos mais complexos comportamentos, sentimentos e emoções. 

A evolução biológica se manifesta através de mudanças permanentes (codificadas geneticamente) na forma e função das células, tecidos e órgãos dos seres vivos. O comportamento "surgiu" na Terra há muito tempo. Por exemplo, um ser unicelular, como uma ameba reage se afastando de um estímulo negativo ou se aproximando de um estímulo positivo para sobreviver. Comportamentos simples, como tropismos deste tipo, existem provavelmente há centenas de milhões de anos, ou bilhões de anos, e podem ser encontrados até mesmo em organismos não possuindo sistemas nervosos, como as plantas. Entretanto houve, pela Evolução, uma seleção de comportamentos cada vez mais complexos e avançados, levando à evolução dos órgãos sensoriais, músculos e redes neurais especializadas, pelo avanço dos seres vivos em habitats mais complexos, com números maiores de estímulos tanto positivos quanto negativos. Para o comportamento aplica-se o mesmo raciocínio nos outros traços dos organismos: quanto maior for a gama de comportamentos exibidos por um determinado organismo reagir, sobreviver, maior será a sua chance de se adaptar adequadamente ao ambiente mutante. Diversidade é a palavra-chave aqui. Muitos autores sugerem, portanto, sobre a complexidade cerebral ser essencialmente relacionada à complexidade das estratégias comportamentais selecionadas para a sobrevivência da espécie e os rigores da competição. Por isso não é difícil imaginar como os organismos precisam adquirir e processar uma maior quantidade de informações a respeito do meio ambiente, sendo então selecionado pela Evolução um sistema nervoso mais complexo, mais eficiente. 

Eventualmente (e esse era um dos maiores medos de Darwin, como humanista e religioso), todas as características do cérebro humano, mesmo aquelas consideradas superiores e complexas, como linguagem, pensamento, lógica, sentimentos, etc., podem ser inteiramente explicadas pelos efeitos da seleção natural na Evolução. 

Na Parte I deste artigo citei o exemplo da força de ligação inerente entre pais e filhos, através de sentimentos como o afeto, o amor etc., sem os quais ninguém sobreviveria neste planeta logo após o nascimento. Entretanto, em muitas situações, o instinto de proteger os filhotes entra em conflito com os instintos de sobrevivência. Primeiro, um genitor precisa, entre outras coisas, saber quem são seus filhos, saber das atitudes para protegê-los e a si próprios. Neste ponto o cérebro, com o lado racional, é importante quanto o lado emocional. Além disso: reações como a agressividade contra predadores e comportamentos e sentimentos de defesa em relação ao bem-estar do grupo social como um todo, podem tomar uma precedência em relação aos próprios cuidados com a prole, devido à necessidade de perpetuar a espécie. Podemos observar isto em primatas não humanos, tais como chimpanzés, no qual o infanticídio é muito comum e é relacionado às bases instintivas desses tipos de defesas. 

Isso não acontece em geral com os seres humanos. Devido à evolução cultural, a base emocional e instintiva pode ser inteiramente modificada através da razão. Por exemplo, uma mãe pode preferir sacrificar a própria vida para salvar a do seu bebê. Ou a sobrevivência do grupo social pode ser ameaçada com base em razões puramente racionais (como na guerra). "Saber" é racional, "sentir" é emocional e aí estão os dois pilares cerebrais nos quais falei na primeira parte: somos seres racionais e emocionais e não só racionais. Essas duas esferas estão unificadas e não podem ser separadas, como foi explicado de forma muito bonita pelo neurologista António Damásio, em seu livro "O Erro de Descartes". (2) Citando a falta completa de emoções em personalidades sociopatas e as alterações de personalidade em pacientes lesados em certas áreas frontais do cérebro, tal como no caso histórico de Phineas Gage, Damásio explica que o erro de René Descartes foi a suposição de uma separação entre o racional e o irracional (emoções e sentimentos), e ser supremamente racional seria a melhor coisa para a humanidade. Não é verdade: sem emoção, a racionalidade perde um componente importante e se torna patológica! 

A Evolução acabou por selecionar estruturas cerebrais regulatórias comportamentais nas quais envolviam o problema dos seres vivos possuindo uma prole dependente dos pais durante o período de amadurecimento. As estratégias comportamentais surgidas após milhões de anos da Evolução dos hominídeos e de seleção sexual envolvem uma complexa mistura de razão e emoções. Esta provavelmente é base da nossa singularidade entre todas as espécies. 

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Antes de prosseguir gostaria de dizer algumas palavras sobre a consciência. 
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Ela está presente em muitos momentos e atividades do nosso dia a dia. Veja, por exemplo, em um jogo de xadrez: você pensa: “(Eu) vou posicionar o meu (de “Eu”) bispo da casa branca de maneira a bloquear o xeque do meu (de “Eu” novamente) adversário”. Uma simples frase representando um pensamento estratégico onde a consciência “atua três vezes” representada pela palavra “Eu”. 
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António Damásio, no livro “E o cérebro criou o homem” (Damásio, 2011, p. 310), apresenta o problema dos qualia, no qual um deles, que nos interessa aqui, foi exposto do seguinte modo: “Nenhum conjunto de imagens conscientes, independentemente do tipo e do assunto, jamais deixa de ser acompanhado por um obediente coro de emoções e consequentes sentimentos”. (3) 
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Estamos acostumados a isto que nem nos damos conta. Pelo exemplo acima: “ficarei aliviado pois o xeque do adversário seria seguido de um mate”. Aliviado de quê? Do medo, da expectativa de perder o jogo, que são emoções, sentimentos. 
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A consciência é um poderoso suporte ou auxílio da inteligência. Sempre a utilizamos quando estamos acordados a realizar tarefas das mais diversas ou divagar em pensamentos sem fim sobre qualquer assunto. 

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Parte III 

Imagine quantos milhões ou dezenas de milhões de artigos, livros, poemas, foram publicados sobre e em nome do amor. E tudo aquilo escrito em cartas, pergaminhos e publicações outras? Esta pequena palavra de quatro letras povoou a imaginação, encheu de alegrias e tristezas, arrebatou corações das pessoas em todo o mundo e em todas as épocas. 

Na verdade se trata de números impossíveis de calcular, ainda mais se ousarmos pensar em quantas vezes o amor fora declamado em épocas antes do surgimento da escrita. 

Realmente é tentador para as pessoas pensar, nesse sentimento tão sublime, causas também sublimes, como uma alma, um espírito, além da matéria comum, dentro de nós e criados por um Deus. Ou deuses para os politeístas. Mas não: a Neurociência avança dia a dia elucidando fenômenos até então atribuídos a entes relacionados ao divino, como manifestações de áreas cerebrais, com neurônios mais ativados, a liberar substâncias químicas pelo cérebro e pelo corpo, fazendo-nos sentir bem. 

Somos animais dotados de inteligência e consciência e, por isto, literalmente usamos estas duas capacidades para o nosso bem-estar, “procurando” paixões, relacionamentos amorosos, pessoas especiais, etc., para vivermos um grande amor. 

Conforme a multiplicidade de sentimentos e emoções, tais como a amizade, o carinho, a ternura, a atração, etc., vivemos em um mundo com as nossas mentes funcionando todos os dias em função deles. Nunca paramos. Se você não quer arranjar um (a) namorado (a), você se prende às amizades, só ao sexo, às atrações e aventuras onde as emoções fortes tomam conta da sua vida. 

Não conseguimos viver sem a turbulência de emoções e sentimentos pelos quais o nosso cérebro é o comandante geral. 

Pensávamos em algo imaterial regendo os nossos comportamentos e para a sobrevivência bastaria dormir, comer, trabalhar e fazer filhos. Engano. Aproveitamos nossas habilidades naturais para o que já há décadas se chama “aproveitar a vida”, o antigo carpe diem, do também antigo filósofo latino Horácio (65 a.C. - 08 a.C.) fazendo parte do nosso bem-estar. 

Esta Parte III enfatiza o quanto precisamos “usar” os nossos sentimentos e emoções para o bem-estar fazendo parte também da nossa sobrevivência como eu disse brevemente no último parágrafo da Parte I. 

A última frase “Retire tudo isto dos humanos e verá a nossa espécie desaparecer” é poderosa porque não podemos e não somos “programados” para vivermos como autômatos, robôs, executando apenas tarefas repetitivas diariamente. Temos criatividade, inteligência e consciência para fazermos coisas e mais coisas para sentirmos bem, vivermos felizes. 

Talvez seja por isto, em qualquer definição da vida para nós, o bem-estar e a felicidade têm que ser levados em consideração. 

Sentimentos e emoções serviram à evolução para os mamíferos (também aves e menos nos répteis e peixes), sobreviverem no planeta. Mas como temos inteligência e consciência, usamos essas duas maravilhas para o nosso bem-estar e felicidade sem os quais poderíamos também perecer. Isto também é sobrevivência mas em um plano mais elevado de “estados mentais”. 

Acontece algo curioso conosco. Emoções e sentimentos ao encontrarem a consciência e uma inteligência avançada dão um verdadeiro salto em termos de como nós podemos nos valer delas. 

É uma volta parecida ou igual a um feedback no qual podemos alcançar momentos de êxtases inesquecíveis a perdurarem em nossas memórias para o resto de nossas vidas, mas sem a qual não seríamos nós mesmos. 

Retornando ao assunto sobre o “prazer, satisfação em termos de paixões, grandes amores, amizades, felicidade, momentos agradáveis dos mais diversos, etc.”, citado por mim no primeiro parágrafo da “Parte I”, são também, e principalmente, para a sobrevivência da espécie humana na Terra. Sentimentos e emoções como o amor pelos filhos, o carinho, o afeto, gerando respeito, cuidados, etc., também existem para a sobrevivência, inclusive nos outros mamíferos, de modo “simplificado”, mas não menos importante. 
Referências
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1 - Argos Arruda Pinto. A base material dos sentimentos: por que temos emoções e sentimentos negativos? 2018. Disponível em: < https://razaosentimentoemocao.blogspot.com/2018/02/a-base-material-dos-sentimentos-por-que.html >. Acesso em: 09 dez. 2018.

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2 - DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 

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3 - DAMÁSIO, António R. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 310.