Argos Arruda Pinto

Argos Arruda Pinto

Blogs meus:

- "Neurorreligação" - Um novo termo científico entre a Psicologia e a Neurociência
https://neurorreligacao.blogspot.com/2016/10/neurorreligacao.html

- In english: "Neuro-reconnection"
https://neuro-reconnection.blogspot.com/

- "O Relativismo Religioso como eu o vejo: as muitas diferenças entre as religiões"
https://orelativismodasreligioes.blogspot.com
- "O Sal da Terra"- O Hino Ecológico
https://osaldaterraohinoecologico.blogspot.com.br

Áreas de maior interesse:
- Física
- Neurociência
- Psicologia
- Psicologia Evolucionista
- Antropologia
- Origem da vida
- Evolução
- Relativismo Religioso


segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Neuroplasticidade, TCC e fobia social

Palavras-chave: neurociência, neuroplasticidade, TCC, fobia social, ansiedade, amígdala. 

Introdução. 
Este artigo é baseado em um estudo controlado randomizado (ECR), observando mudanças funcionais/estruturais no cérebro quando da terapia cognitiva comportamental, utilizando-se da neuroimagem multimodal, (1a, 1) em pacientes com fobia social, também chamada de transtorno de ansiedade social. 

Fobia social é o medo de se expor! E esta palavra “expor” compreende muitas situações sociais às quais estamos sempre nos deparando em nossas vidas: de falarmos em público em um trabalho na universidade a irmos em uma festa, de conversarmos em uma reunião com o síndico do nosso prédio e até assinar um documento em frente a um gerente de banco, expomos o que somos, sentimos, nossas ideias, etc. O medo antecipado e exagerado de errarmos ou falharmos em algo, mesmo não sendo importante para a grande maioria das pessoas, torna-se um obstáculo intransponível na realização de muitas ações e, principalmente, compromissos. A ansiedade acompanhada na fobia social faz nos preocuparmos demais com fatos pequenos e esqueçamos o que de positivo ocorrera, por exemplo, em uma festa, na qual uma piada divertiu várias pessoas e nos destacou das demais. Ficamos presos nos possíveis acontecimentos negativos e deixamos simplesmente de viver! Deixamos o sucesso em um projeto de trabalho não ocorrer porque fugimos da sua apresentação.  

::::: 

Essa fobia tem como característica principal uma reatividade muito grande da amígdala, podendo ser tratada pela terapia cognitiva comportamental. (2) A amígdala, o hipocampo, o cíngulo e o córtex cingulado anterior (ACC) são regiões cerebrais onde se expressa o medo e atividades exageradas de respostas  neurais têm sido relacionadas com o transtorno de ansiedade. 

Um fato bem interessante em nosso cérebro é a responsividade neural pelas emoções, assim como na plasticidade estrutural. Responsividade seria receber questões, dúvidas e respondê-las solucionando problemas. Neurônios recebem entradas e essas são modificadas. 

No estudo a qual se refere este texto, 26 pessoas com TAS e com outros 26 mas saudáveis, escolhidos aleatoriamente, foram submetidos à TCC em um período total de 9 semanas, em que os cientistas queriam verificar mudanças relacionadas ao tratamento na estrutura cerebral pela alteração do volume de substância cinzenta (GM) e de funções neuronais dependente do nível de oxigênio no sangue, resposta BOLD. 

Os cientistas também avaliaram a angústia e o medo dos participantes realizando uma tarefa de falar em público por dois minutos. O medo e a angústia foram avaliados separadamente em uma escala de 0 a 100 (min-max), e a ansiedade foi calculada como a média dessas medidas. 

Então, segundo eles próprios: “...Assim, demonstramos que a relação entre a atenuação induzida pela TCC da hiper-responsividade da amígdala e os sintomas de ansiedade social é mediada pela diminuição do volume GM local. Semelhante à nossa descoberta sobre a relação estrutura-função na amígdala, um estudo longitudinal anterior também mostrou dependência entre atrofia GM e responsividade neural cognitiva relacionada à idade no córtex pré-frontal, sugerindo que o cérebro adaptativo pode ser melhor entendido em um contexto multimodal. Assim, argumentamos que análises de neuroplasticidade estrutural e alterações funcionais concomitantes fornecem melhor compreensão de como o cérebro se adapta aos tratamentos ansiolíticos, o que não poderia ser totalmente explicado por cada modalidade separadamente. Além disso, nossos resultados reforçam a noção de que a neuroplasticidade estrutural na amígdala é um alvo importante para os tratamentos psicossociais da ansiedade, como sugerido anteriormente para tratamentos farmacológicos do transtorno de estresse pós-traumático ... Em conclusão, demonstramos evidências convincentes de que a TCC para um transtorno de ansiedade comum altera simultaneamente a estrutura física e a resposta neurofuncional da amígdala. Embora nossos resultados apoiem que a neuroplasticidade da amígdala esteja diretamente relacionada à melhora dos sintomas de ansiedade social com TCC, esses resultados devem ser replicados e testados em outros transtornos de ansiedade e com outros tratamentos ansiolíticos.” 

Um dos meus objetivos deste artigo é mostrar mais uma vez o papel fundamental da neuroplasticidade como o agente principal das mudanças de comportamento das pessoas para um nível melhor em termos de suas vidas sociais, afetivas e de trabalho. Como eu sempre digo no termo científico que criei, a neurorreligação, (3) psicoterapias, meditações, psiquiatria e até nas práticas religiosas, ou em uma combinação das quatro, a neuroplasticidade está presente e as pessoas submetidas a essas práticas podem muito bem voltar a ter uma vida normal.

                                                                          
Referências: 

1a - “...medição simultânea de imagens (EEG / fMRI, PET / CT) ou soma de medições separadas (PET e sMRI, sMRI e dMRI, fMRI e dMRI)” ... “A neuroimagem multimodal avança a pesquisa em neurociência superando os limites das modalidades individuais de imagens e identificando as associações de achados de diferentes fontes de imagem. A neuroimagem multimodal tem sido usada para investigar uma infinidade de populações e distúrbios, como a doença de Alzheimer, esquizofrenia, epilepsia, transtorno obsessivo - compulsivo ( TOC), transtorno bipolar, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (TEA), traumatismo cranioencefálico (TCE), acidente vascular cerebral, esclerose múltipla (EM) e tumores cerebrais.”  

1 - Sidong Liu, Weidong Cai, Siqi Liu, Fan Zhang, Michael Fulham, Dagan Feng, Sonia Pujol, and Ron Kikinis. Multimodal neuroimaging computing: the workflows, methods, and platforms. NCBI. PMC (US National Library of Medicine – National Institutes of Health). 2015. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4737665/ >. Acesso em: 27/08/2018. 

2 - K.N.T. Mansson, A. Salame, A. Frick, P. Carlbring, G. Andersson, T. Furmark e C.J. Boraxbekk. Neuroplasticity in response to cognitive behavior therapy for social anxiety disorder. NCBI. PMC (US National Library of Medicine – National Institutes of Health). 2016. Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4872422/ >. Acesso em: 27/08/2018. 

3 – Argos Arruda Pinto. Neurorreligação. 2016. Disponível em: < http://neurorreligacao.blogspot.com/2016/10/neurorreligacao.html >. Acesso em: 27/08/2018.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Neurociência, cronestesia, antropologia, evolução, tempo e espaço

Palavras-chave: Endel Tulving, chronesthesia, cronestesia, tempo, espaço, neurociência, teoria da evolução, psicologia evolucionista, antropologia, consciência, memória.  
  
Considero fascinante a interdisciplinaridade porque ela consegue nos proporcionar uma visão de mundo muito maior que uma disciplina só.  

O que dois conceitos básicos da Física como tempo e espaço, a Teoria da Evolução da Biologia, a Neurociência, a Antropologia, a Psicologia Evolucionista e um conceito tão obscuro na língua portuguesa do Brasil, a cronestesia, do inglês chronesthesia, poderiam se ajudar para obtermos alguma informação sobre o nosso mundo e, quem sabe, de nós mesmos? Foi esta a minha motivação, com conceitos tão distantes, para escrever este artigo.   
Sempre fomos predadores carnívoros na natureza, mas também fomos e somos presas. Não se preocupe, atualmente nenhum leão estará na porta da sua casa para devorá-lo quando você sair. Hoje não é mais assim! Qual não era a vantagem evolutiva de um caçador coletor a verificar que a distância até um predador era grande o suficiente para ele pegar umas frutas em uma árvore, sendo esta a refeição do dia a ele e a sua família? E também se fosse o caso de um predador não tão veloz? E neste sentido, utilizando naturalmente a palavra veloz, incluo um cálculo feito por ele da velocidade do predador pois se entrou neste caso o fator tempo! Velocidade é espaço dividido pelo tempo, mas nenhum ser humano precisou aprender esse conceito... Intuitivamente sempre usamos para diversas finalidades. Somos dotados dessa capacidade na qual tempo e espaço estão presentes. 

Fugir de predadores ou de qualquer outro inimigo natural, perseguir presas, ter consciência da altura de uma caverna avaliando se seria viável para crianças e idosos, etc., poder-se-ia listar muitos exemplos nos quais as variáveis tempo e espaço eram fundamentais na sobrevivência da espécie humana. 

Na realidade, qualquer simples ação nossa está totalmente envolvida no tempo e no espaço. Ao se aproximar de uma mesa e pegar um copo para tomar água, você, inconscientemente, anda a distância correta para depois esticar o seu braço também na distância correta e abrir a sua mão o suficiente para pegá-lo. E isto é apenas um resumo, pois seria cansativo aqui tentar prever tudo o que realizamos com os nossos corpos nessa ação bem simples ou quaisquer outras. Mas também em atos conscientes, nos quais estamos conscientes do que realizamos, nossas ações, sejam elas quais forem, estão dentro do espaço e no transcorrer do tempo. Na verdade, é impressionante o quanto estamos envolvidos no espaço e no tempo, como eles nos permeiam em todos os segundos de nossas vidas. Mas seria exagero tocar nesse assunto tão básico? Não, apenas quis deixar relatado a nossa dependência com esses dois importantes conceitos físicos porque temos também não só exemplos de ações comuns, mas outros de muita importância os quais nem quase imaginamos ou sabemos, já que o assunto aqui tem a ver com a evolução. 

Em diversas regiões do planeta, em muitas épocas, se perceberam a existência de um fato curioso com as plantas provedoras de frutas, alimentos: uma queda de algo pequeno tornando-se depois de um certo tempo uma planta igual com os mesmos frutos. Pronto, nós iniciamos a era das plantações, existente até hoje, com as nossas vidas mudando radicalmente. E assim aconteceu, em termos de observações e criatividade, com o domínio do fogo e consequentemente com o desenvolvimento da metalurgia, com a construção de casas de madeiras, blocos de pedras, blocos de muitos materiais fixados com argamassas e assim por diante. Enfim, a nossa civilização atual. 

Veja no exemplo das sementes, elas no mesmo local e no decorrer do tempo, aprendemos um dia sobre plantar, com a nossa memória retendo esse conhecimento, lembrando-nos do passado toda vez ao ensinar outros humanos também a plantar. É a chamada memória episódica a qual podemos "viajar no tempo", como disse certa vez o neurocientista cognitivo canadense, Endel Tulving. Para ele existe ainda a memória semântica na qual não precisamos nos recordar de uma experiência passada: “Você não precisa viajar mentalmente para lembrar uma fórmula química ou o nome de solteira de sua mãe", explicou ele. (1)    

Na memória episódica, os humanos, conscientes com o ocorrido no passado,   aprenderam a como lidar com o presente e o futuro: “Nas relações sociais, por exemplo, permitiu-lhes distinguir amigos de inimigos ... ajudou-os a desenvolver ferramentas que funcionassem bem e descartar as que não funcionassem”, disse Tulving. (1) 

Ele acabou por chamar essa consciência do passado, envolvendo a memória, com o que podemos realizar no presente ou no futuro, de cronestesia. 

Disse também: “O processo de cronificação de ordem superior permite que as pessoas atualizem informações críticas para sobreviver, prosperar e lidar com mudanças em seu mundo. Além disso, auxilia na memória semântica ao anexar histórias pessoais aos fatos, dando às pessoas experiências de dimensões temporais e emocionais, o que as torna mais críveis.” 

Se não fosse possível para nós lembrarmos de acontecimentos no passado para realizarmos trabalhos e ações no presente e projetá-los no presente e/ou no futuro, termos consciência do passado e termos juntamente uma ponte para o presente e o futuro, não aprenderíamos quase nada, não existiria a tão comentada e importante  “experiência de vida”. Sem a cronestesia nossas mentes nem funcionariam direito, seríamos incapazes de produzir, praticamente nem sairíamos da condição de caçadores coletores. 

Referências: 
1 - Bridget Murray. What makes mental time travel possible? - Psychologist Endel Tulving offered a theory on our uniquely human ability to act today based on our past and future. American Psychological Association. 2003. Disponível em: < http://www.apa.org/monitor/oct03/mental.aspx >. Acesso em: 03/08/2018.