Palavras-chave: neurociência, álcool, droga, alcoolismo.
Por Argos Arruda Pinto.
Escrito em: 22/04/2013.
Revisado em: 17/09/2018.
Existe muito de ignorância em dizer que o alcoólatra é um sem-vergonha ou vagabundo.
Enquanto as bebidas alcoólicas existem
há mais de mil anos em nossa civilização, o alcoolismo é só agora
desvendado por ser uma doença emocional em nível da atividade de
neurônios em regiões cerebrais.
Existe
uma base material-neuronal muito forte para que o alcoolismo seja
compreendido e aí a ignorância das pessoas não as deixam mesmo compreendê-lo como realmente uma doença. E quando digo base material-neuronal me refiro à neurociência como
no caso do meu outro artigo, "Neurociência e o perigo do vício das
drogas", (1) digo: "Veja, o leigo não sabe que os sentimentos são
produzidos por áreas cerebrais; não sabe, muito menos, que estão
envolvidas substâncias químicas, íons e moléculas nessas áreas, enfim,
toda uma gama de estruturas macros e micros comandando vícios, atitudes,
comportamentos, contribuindo para a infelicidade da pessoa quando, por
exemplo, as drogas passam a interferir [negativamente] nessa maquinaria
neuronal." E o álcool é uma droga igual à maconha, o crack, a cocaína, etc., com a grande e nefasta razão de ser lícita.
Temos no cérebro a região chamada de núcleo acumbente, relacionada ao nosso prazer, ao fato de sentirmos prazer até em quando pensamos em realizar algo para termos prazer em um futuro imediato: beber, fazer sexo, etc. Aí está o perigo porque uma pessoa irá procurar o álcool novamente para ter o prazer de antes, mas poderá
entrar em um círculo vicioso. E algumas pessoas são emocionalmente mais
fracas para saírem desse círculo e, ao me referir a "emocionalmente",
digo também de regiões cerebrais, neurônios, substâncias químicas
produzidas no cérebro, etc.
Mas existe algo além de tudo. Algo conhecido pelas pessoas, mas não em profundidade: o uso do álcool para diminuir o stress (2) do trabalho sendo também uma busca de prazer, de alívio. E para tanto conto uma pequena história: conheci um sujeito, vendedor autônomo
e em todas as tardes ele parava em bares para beber. Gastava muito
dinheiro porque a bebida também trazia outros gastos como porções,
outros tipos de bebidas, etc., e, pelo fato de não guardar dinheiro e
também por vezes não trabalhar direito no dia seguinte, não saía do
aluguel e não prosperava. Eu, desconfiado, perguntei a ele sobre essa
situação e a resposta foi o imaginado por mim. O cansaço físico e mental de um dia de trabalho, o stress do dia, o fazia buscar a bebida para relaxar.
Falei a ele sobre procurar um médico, fazer terapia, usar
apropriadamente um calmante, natural se possível, mas a resposta dele
fora algo incrível em ignorância: "Esses remédios viciam mais, fazem
mais mal, são porcarias". Soube bem depois da mudança dele para um alcoólatra.
E
tenho o meu próprio testemunho, mas não de alcoólatra porque não sou um
e nem nunca fui. Mas é o seguinte: eu tomava uma ou duas garrafas de
cerveja ao sair do trabalho nas sextas-feiras. Era uma empresa
estressante e, ao tomar a (s) cerveja (s) eu me sentia como se o último
dia de trabalho tivesse sido há um mês antes e que teria duas, três
semanas de descanso pela frente. Um grande alívio! Eu
estava "combatendo" o stress da semana. Outro perigo: uma sensação
muito agradável podendo me levar a beber todos os dias. Parei de tomar.
Nunca dê chance ao azar ou a possíveis fatos negativos a vir pela
frente! Eu estava consciente do que estava fazendo, mas e uma pessoa
ignorante nesse assunto?
Então
temos o comportamento visível (macro) do alcoólatra, se destruindo,
enquanto a sociedade o considera um sem-vergonha ou vagabundo, e, em nível micro, cerebral, dos neurônios, fatos sendo desvendados pela neurociência como a prova desse comportamento macro.
Por tudo isto, na minha opinião, deveria se ensinar nas escolas, desde cedo e sistematicamente se aprofundando no assunto, insistindo no fato das bebidas alcoólicas serem
drogas viciantes e por isto perigosas. Afetam a saúde mental, o
relacionamento familiar, a vida afetiva, a vida financeira, levando
muitas pessoas, como conhecemos muitas delas, à uma ruína completa da
vida.
Referência:
1 – Argos Arruda Pinto. Neurociência e o perigo do vício das drogas. 2012. Disponível em: < http://neuvicdro.blogspot.com/2012/10/por-argos-arruda-pinto.html >. Acesso em: 17/09/2018.
Nota:
2 - Existe também o stress emocional causado por perdas de bens materiais e/ou familiares, situações conflitantes, etc., mas
o raciocínio aqui é praticamente o mesmo, sendo a diferença é que a
pessoa busca o álcool para aliviar os sintomas de ansiedade, tensão,
etc., ou seja, de tentar se sentir melhor, buscar um mínimo de
bem-estar.
Artigos para leitura complementar:
Argos Arruda Pinto. A base material dos sentimentos. 2001. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n12/opiniao/sentimentos.html >. Acesso em: 17/09/2018.
Argos Arruda Pinto. A base material dos sentimentos – 02. 2002. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n13/opiniao/material.html >. Acesso em: 17/09/2018.
Argos Arruda Pinto. O Porquê dos nossos Sentimentos. 2002. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/material3.html >. Acesso em: 17/09/2018.
Argos Arruda Pinto. O Porquê dos Nossos Sentimentos – 02. 2002. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html >. Acesso em: 17/09/2018.
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