Argos Arruda Pinto

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quarta-feira, 5 de março de 2025

Uma das grandes características da consciência humana:

Pense nas primeiras recordações da sua vida: seus pais, irmãos, a frente da sua casa, a sala, seu quarto, alguns amiguinhos, etc. O número é grande. 

 
Por volta dos quatro anos de idade é que tomamos contato não apenas com lembranças assim, mas algo também profundo. Era você quem via, interagia com tudo, ou seja, você era o "ator" da realidade à sua volta e de você mesmo onde estivesse. A sua consciência estava presente pela primeira vez na sua vida. 
Você não apenas sabia, em termos lógicos, que era você, mas também sentia. Era um sentimento também junto a pensamentos e ideias lógicas sobre a pessoa ali, você dentro de você! 
 
Você cresceu, passou por todas as fases da vida de uma pessoa, infância, adolescência, juventude, adulta e idoso. Seu corpo mudou muito desde então. Você passou por experiências de vida nunca imaginadas e outras sem importância alguma. O modo de como via e interpretava o mundo mudou também e várias vezes. Sua personalidade foi se formando, transformando, e você chegou à maturidade. Opiniões, sabores, ideias, atitudes, comportamentos, enfim, uma gama muito grande de fatores de quem era e é você hoje também mudou. Mas aquele sentimento e como você era é e nunca mudou... Ele continua intacto desde a sua infância.

Sentimentos e emoções como produtos da evolução:

É um absurdo dizer que os nossos sentimentos e emoções não foram selecionados pela evolução, porque não existe nada em excesso, a mais, "sobrando", talvez com raríssimas exceções, pertencendo às nossas estruturas e funções, sendo a vida emocional e sentimental de nós humanos riquíssimas em detalhes e muito importante para nós.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

A unicidade da vida na Terra. Por Marcelo Gleiser*

"Cerca de 5 bilhões de anos atrás, uma gigantesca nuvem de hidrogênio flutuava calmamente na nossa galáxia, enquanto girava lentamente em torno de si como um pião preguiçoso. Estrelas vizinhas, no final de seu ciclo de vida, explodiram violentamente, enviando ondas de choque que atravessaram o espaço interestelar a velocidades que chegam a 30 mil quilômetros por segundo, um décimo da velocidade da luz. Essas ondas semearam o espaço com os elementos químicos essenciais à vida. Eventualmente, colidiram com a nuvem de hidrogênio. A violência do choque iniciou o colapso gravitacional da nuvem, que começou a implodir, enquanto girava em torno de si mesma. Ao diminuir de tamanho, a nuvem foi girando cada vez mais rápido, achatando nos polos feito massa de pizza. 

A maior parte da matéria concentrou-se no centro, enquanto os restos continuaram a girar à sua volta. 

Com o passar do tempo, a massa no centro tornou-se densa e quente o suficiente para iniciar o processo de fusão nuclear: nasceu uma estrela, no caso, o nosso Sol. A matéria que sobrou à sua volta foi coagulando em mundos diferentes, de tamanho e composição variada. Em menos de 1 bilhão de anos, o sistema solar se formou, a Terra sendo o terceiro planeta a partir do Sol, após Mercúrio e vênus. O que ocorreu aqui ocorre em todo o Universo. A morte de uma estrela causa o nascimento de outras, a Natureza em fluxo constante. A energia flui e a matéria dança, assumindo formas, ora criando padrões, ora destruindo-os. 

Dos mundos que nasciam em torno do Sol, a Terra era um aglomerado incandescente de matéria, aproximadamente esférico, borbulhando enquanto tomava forma e se resfriava. Restos de material não coletado em outros planetas, asteroides e cometas, colidiam impiedosamente com a jovem Terra, aumentando ainda mais o caos, enquanto depositavam seus tesouros: água e uma enorme variedade de compostos químicos, incluindo alguns orgânicos, aqueles contendo carbono, mesmo se ainda simples. Os céus davam e torturavam. As coisas começaram a se acalmar apenas 600 milhões de anos, em torno de 3,9 bilhões de anos atrás. Se, porventura, alguma criatura viva existiu antes disso, foi destruída sem dó, sem deixar traço de sua breve existência. A vida pode ter tido muitas origens, perdidas num tempo sem história. Para entender a história da vida na Terra, precisamos entender a história da Terra. Isso é tanto verdade aqui quanto em qualquer outro planeta ou lua onde a vida pode existir, passado, presente e futuro: a história da vida num planeta depende de forma essencial da história da vida no planeta. 

Dado que cada planeta tem sua própria história, a vida e suas características específicas são únicas: se considerarmos a vida um experimento, ele não se repetiu da mesma forma em dois mundos diversos. Mesmo que a vida siga os mesmos princípios no Universo inteiro, baseada no carbono e seguindo as leis da evolução darwinista segundo a seleção natural, será única em cada mundo em que existir, cada criatura sofrendo mutações e evoluindo de forma a maximizar sua adaptabilidade ao mundo em que existe. 

Este fato nos afeta diretamente. A vida na Terra é única: se houver vida em outro lugar, será necessariamente diferente. Dado que somos a forma de vida mais sofisticada neste planeta - amo baleias, golfinhos, macacos, gatos, etc., mas me refiro aqui à nossa capacidade de raciocínio -, somos únicos como seres inteligentes. Se a vida inteligente existir em algum outro sistema solar, será diferente da gente, mesmo que possa dividir alguns dos nossos traços, como uma simetria aproximada entre o lado esquerdo e o direito, ou um sistema circulatório com um coração. Além disso, essa vida inteligente estará tão longe que, na prática, estamos sós. Sendo assim, temos um papel central no Universo, sendo a expressão material de sua inteligência, o que chamo de  'humanocentrismo'." 

 

Nota: 

(*) Marcelo Gleiser (1959 -) é um físico e astrônomo brasileiro, professor na Dartmouth College, nos EUA. Nascido no Rio de Janeiro, ele é atualmente o físico brasileiro mais famoso do mundo. 

 

Referência 

GLEISER, M. A simples beleza do inesperado. 1a. ed. Rio de Janeiro. Record, 2016, p. 140. 

  

sábado, 25 de janeiro de 2025

Por que não se deve temer a IA - Um texto multidisciplinar

Vivemos em um mundo hoje onde muitas pessoas estão com medo da inteligência artificial porque a consideram uma ameaça ao futuro da humanidade. E essa ameaça inclui não apenas um domínio sobre os humanos, mas até a própria extinção juntamente com o planeta. 

Só que existem muitos impedimentos para a IA não conseguir se desenvolver tanto assim. Digo neste texto de apenas três propriedades humanas, do cérebro: consciência, sentimentos e emoções. 

A experiência subjetiva, ou qualia, imprescindível na consciência, representa uma sensação, um sentimento, por exemplo, de, ao ver o vermelho de um objeto e sentir que gosta ou não, de sentir dor, de apreciar uma escultura, etc. Como codificar tudo isto em um modelo computacional? Como garantir que uma IA sinta ou produz dor ou alegria de forma autêntica? Como outro exemplo, duas pessoas podem ouvir a mesma música, porém elas podem ter reações emocionais diferentes e associar a música a memórias distintas. Isso torna suas experiências subjetivas, pois estão baseadas em suas próprias percepções e sentimentos. 

Alguém poderia dizer em simular os sentimentos, mas, como medi-los? Qual seria a intensidade dos sentimentos? De cada experiência própria de cada pessoa? Um mais um é igual a dois a todas as pessoas dentro do espaço euclidiano, mas, e as nuances dos sentimentos e emoções particulares a cada um? 

O cérebro é um órgão plástico, capaz de se adaptar e aprender continuamente. Quando aprendemos ele simplesmente adiciona ou modifica matéria neural, mudando mesmo de forma, embora de maneira microscópica. Literalmente ele constrói novos neurônios, realiza fisicamente novas conexões entre eles, etc. É o que se chama de neuroplasticidade. Como programas de computador poderiam criar matéria em forma de metal, chips, e/ou modificá-los, ao receberem, por exemplo, um aplicativo novo, e, através desta plasticidade "mecânica-eletrônica", tornar-se apto a entender e lidar com novas informações   provenientes de novos programas e aplicativos, generalizando o assunto? 

Sobre o que exatamente é a consciência, ainda não há um consenso de como ela é, de como surge. Sem uma definição clara, é difícil criar um modelo computacional. Ela envolve mais do que apenas resolver equações ou seguir regras lógicas. A consciência humana é algo que é estudado desde várias disciplinas diferentes, incluindo neurologia, psicologia, filosofia e inteligência artificial. 

Um sistema de equações ou um sistema lógico, como eles são atualmente, não tem a capacidade de desenvolver consciência porque eles operam puramente com base em regras e algoritmos sem uma compreensão ou experiência subjetiva. Para que um sistema se tornasse consciente, ele precisaria ter a capacidade de experiência subjetiva - a sensação, sentimentos, de "estar" ou "existir", que é algo que a ciência ainda não conseguiu replicar ou entender completamente. Ela é vivida internamente, de acordo com as próprias percepções, sentimentos, pensamentos e sensações de uma pessoa. Em outras palavras, é uma experiência pessoal e única, que pode ser influenciada por fatores individuais como cultura, emoções, memória e perspectiva.  

A teoria dos números, por exemplo, é uma área matemática que lida com propriedades e relações de números inteiros e racionais. Embora seja incrivelmente poderosa na resolução de problemas e criar modelos, ela não possui a capacidade de perceber ou ter sentimentos. 

Por outro lado, a consciência pode surgir como uma propriedade emergente das interações entre bilhões de neurônios. As propriedades emergentes surgem do funcionamento de um sistema no qual suas partes, individuais ou coletivas, não realizam sozinhas o que essas novas propriedades realizam. É muito difícil até prever qual ou quais emergências surgirão de sistemas complexos. 

De qualquer maneira, equações e mais equações não conseguiriam "voltar-se" a si próprias, reconhecer que são elas mesmas que estão ali, corrigir ou modificar elementos delas no intuito de melhorar seus resultados, eficiência, etc. 

Um argumento representativo do perigo a qual seria a IA, é o fato dela crescer tremendamente e aniquilar a nós, os humanos, sejam lá quais forem as razões dessa tragédia cibernética. Ela poderia não nos dar valor e acabar com todo mundo sem sentimento algum. Somos inteligentes e para tanto ela teria que pensar muito pois nos protegeríamos. E pensar e agir envolve intencionalidade, uma das principais características da... consciência! E se a IA perdesse o controle eliminando a nós aleatoriamente? Aí já é demais, negatividade demais. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Um argumento contra um criador inteligente da vida terrestre

Observação 01: Em seu livro A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da cultura, (Damásio, 2018) o neurocientista português - estadunidense António Damásio faz uma espécie de resumo de outros dois livros dele, E o cérebro criou o homem, (Damásio, 2011) e O mistério da consciência (Damásio, 2000) sobre os nossos sentimentos e a consciência, para então entrar no assunto da formação da cultura com forte influência que os sentimentos exerceram. Para nós bastam as origens biológicas dos sentimentos. Você notará algumas palavras ou expressões estranhas no sentido do contexto ao qual ele se refere, como imagens, formação de imagens, qualia, etc. Aconselho uma pesquisa em IA para quem não estiver acostumado com elas, citando o nome dele, pois assim será mais rápido o entendimento desses termos. As expressões "imperativo homeostático" e "em imagens" serão explicados por mim logo abaixo. Não se precisa, evidentemente, ler os dois livros anteriores e este último desde o início. 

Observação 02: Utilizo o tema deste livro do António Damásio para construir o argumento deste texto e todas as citações serão do último capítulo, o treze, de mesmo nome que o livro. 

Damásio expressa uma surpresa e uma estranheza como ele mesmo diz literalmente sobre fatos biológicos relacionados aos sociais, que coloco integralmente abaixo. 

 

O título deste livro foi sugerido por dois fatos. O primeiro é que, 100 milhões de anos atrás, algumas espécies de insetos já haviam adquirido uma coleção de comportamentos, práticas e instrumentos sociais que podem, apropriadamente, intitular-se culturais quando comparados a seus análogos sociais humanos. O segundo fato é que, em um tempo ainda mais remoto, muito provavelmente há vários bilhões de anos, organismos unicelulares também apresentavam comportamentos sociais cujas linhas gerais condizem com aspectos de comportamentos socioculturais humanos. 

Esses fatos certamente contradizem uma noção convencional: a de que algo tão complexo como comportamentos sociais capazes de melhorar a gestão da vida só poderia ter surgido da mente de organismos evoluídos, não necessariamente humanos, mas complexos o bastante e suficientemente próximos dos humanos para engendrar o refinamento necessário. As características sociais sobre as quais escrevo apareceram nos primórdios da história da vida, são abundantes na biosfera e não precisaram esperar o surgimento na Terra de alguma coisa parecida com o ser humano. Isso é verdadeiramente estranho, inesperado, para dizer o mínimo. 

Um exame mais atento revela detalhes por trás desses fatos fascinantes, por exemplo, comportamentos cooperativos bem-sucedidos do tipo que tendemos a associar, e com razão, à sabedoria e maturidade no ser humano. No entanto, estratégias cooperativas não precisaram esperar que surgissem mentes sábias e maduras. Estratégias desse tipo possivelmente são tão antigas quanto a própria vida e nunca se manifestaram com maior brilhantismo do que no conveniente tratado celebrado entre duas bactérias: uma ambiciosa e atrevida, que quis apoderar-se de outra, maior e mais bem estabelecida. A batalha resultou em empate, e a bactéria atrevida tornou-se um satélite cooperativo da bactéria estabelecida. Os eucariotos, células com um núcleo e organelas complexas como as mitocôndrias, provavelmente nasceram dessa maneira, na mesa de negociações da vida. 

As bactérias da história descrita não possuem mente, quanto mais uma mente sábia. A bactéria atrevida opera como se concluísse que "se não pode vencê-la, junte-se a ela". Por sua vez, a estabelecida opera como se pensasse "eu bem que poderia aceitar essa invasora, se ela me oferecesse algo em troca". Mas, obviamente, nenhuma delas pensou [em] coisa alguma. Não houve reflexão mental, consideração manifesta de conhecimentos prévios, astúcia, ardileza, bondade, lisura ou conciliação diplomática. 

A equação do problema foi resolvida cegamente e a partir de dentro do processo, de baixo para cima, como uma opção que, analisando hoje, podemos ver que funcionou bem para os dois lados. No entanto, a solução foi moldada pelos requisitos imperativos da homeostase, e isso não foi mágica, exceto em um sentido poético. Ela consistiu em restrições físicas e químicas concretas aplicadas ao processo da vida, dentro das células, no contexto de suas relações físico-químicas com o meio ambiente [...] O fascinante processo de cooperação não se sustenta sozinho, sem ajuda. As bactérias são capazes de perceber a presença de outras, graças a sondas químicas instaladas em suas membranas, e podem até distinguir as suas parentes das forasteiras por meio da estrutura molecular dessas sondas. Esse é um modesto precursor da nossa percepção baseada em imagens. 

Esses surgimentos em ordem tão estranha revelam o imenso poder da homeostase. O indomável imperativo homeostático, atuando por tentativa e erro, selecionou naturalmente soluções comportamentais disponíveis para vários problemas da gestão da vida. Os organismos vasculharam e avaliaram, impremeditadamente, a física de seu ambiente e a química dentro de suas membranas e, da mesma forma, chegaram a soluções no mínimo adequadas, mas frequentemente boas para a manutenção e a prosperidade da vida. O espantoso é que, quando configurações de problemas comparáveis foram encontradas em outras ocasiões, em outros pontos da emaranhada evolução das formas de vida foram encontradas as mesmas soluções. A tendência a determinadas soluções, a esquemas semelhantes, a algum grau de inevitabilidade, resulta da estrutura e das circunstâncias de organismos vivos e de sua relação com o ambiente, e depende da homeostase de forma assombrosa. (Damásio, 2018, p. 267) 

 

 

Não é de se espantar essa surpresa de Damásio porque parece que funções biológicas simples, de organismos simples, aparecem em organismos muito mais complexos, se repetindo, embora de forma mais complexa, sofisticadas e misturadas no tempo.  

Então Damásio cita o seu principal argumento, um "poder", em todo o livro, o imperativo homeostático. 

 

Homeostático vem de homeostase ou homeostasia, a qual Damásio lamenta ser este termo algo praticamente esquecido por cientistas, não se dando o verdadeiro valor que possui.  

Homeostase é a capacidade de um sistema, e agora se pode falar em sistemas gerais e não apenas orgânicos, de manter variáveis em níveis de valores aceitáveis dentro de certos limites, contribuindo com a própria integridade do sistema ou de partes dele. Um dos exemplos mais simples que posso mencionar é a regulação da temperatura corporal e, sem exageros, não haveria nenhum ser vivo na Terra se não existisse a homeostase. E por isso ele utiliza a palavra imperativo pela importância desse mecanismo.   

 

A expressão “em imagens” pode ser explicada igualmente de maneira simples: se alguém é picado por uma abelha, ele não apenas sente dor e como sabe onde foi, mas faz uma imagem mental consciente da própria dor. Se for uma ponta de uma pedra, dolorida ou não, a imagem será diferente. Isso contribuiu em nossa evolução, como exemplos, deixando-nos cientes em memórias do que dói mais, o que evita, pois a dor é muito intensa sempre, etc.  

 

Para Damásio, as faculdades mentais superiores mais estranhas surgidas em ordem diversa são os sentimentos e a consciência. Poderíamos imaginar, sem sombra de dúvidas, que elas partiram de sistemas em seres complexos, se não em nós humanos, tardiamente na história da evolução. Não é bem assim.  

Cientistas e filósofos citam os córtices cerebrais, estruturas recentes nos cérebros humanos, como os responsáveis por este empreendimento. Eles são regiões do cérebro envolvidas em funções importantes como percepção sensorial, pensamento, memória e tomada de decisões, desempenhando um papel crucial na complexidade das capacidades cognitivas humanas. A subjetividade e o problema dos qualia entram neste assunto. 

Na realidade, como diz Damásio (2018), "núcleos do tronco encefálico e do telencéfalo, todos localizados em nível inferior ao córtex cerebral, são as estruturas cruciais para sustentar os sentimentos e, por extensão, os qualia, que são parte da nossa compreensão da consciência" (p. 271). 

 

Veja mais duas citações dele: "sentimento e subjetividade são faculdades antigas e não dependeram do complexo córtex cerebral dos vertebrados superiores, quanto mais dos humanos, para fazer sua estreia" (Damásio, 2018, pg. 272). E: 

 

 

Em resumo, a construção daquilo que se tornou para nós os sentimentos e a consciência aconteceram de modo gradual, incremental, mas irregular, em linhas separadas da história evolucionária. O fato de podermos encontrar tanta coisa em comum nos comportamentos sociais e afetivos de organismos unicelulares, esponjas e hidras, cefalópodes e mamíferos sugere uma raiz comum para os problemas da regulação da vida em diferentes seres e também uma solução comum a todos: obedecer ao imperativo homeostático. (Damásio, 2018, p. 273) 

 

 

Existem mais exemplos no capítulo treze do livro de Damásio, mas escolhi apenas estes para o texto não ficar tão grande. 

 

Ao mencionar a consciência na citação acima, lembro a você leitor, que ela não é algo do tipo "eu sou eu porque sou" e sim "eu sou eu porque sou e sinto quem sou". Pois bem, razão e sentimentos se fundem quando você olha para dentro de si percebendo e sentindo quem é você. Ela não existiria possuindo apenas uma destas propriedades. Quer dizer, para existir a consciência deve-se ter razão e sentimentos, mas eles surgiram "de modo gradual, incremental, mas irregular em linhas separadas da história evolucionária". 

 

O meu argumento deste texto reside nos exemplos do capítulo treze do livro do Damásio, os quais selecionei aqueles que achei bem relevantes, os comportamentos sociais dos seres vivos por ele descrito, e, especificamente este último, a formação irregular, descontínua, de duas bases que são das mais importantes do cérebro humano, sentimentos e consciência. Por consequência, dá para imaginar o quão é grande o número de situações semelhantes em nossos corpos e nos outros seres vivos. 

Um criador, inteligente, projetista, designer, etc., não formaria indivíduos dos mais simples aos mais complexos, tão distantes na história da própria vida, com tamanha falta de ordenação. Imagine buscar o quanto você conseguir, de exemplos afins. 

 

António Damásio escreveu este livro na intenção de mostrar como os sentimentos foram importantes para a cultura humana, e, ao resumir de forma brilhante os assuntos dos sentimentos e organismos, vi uma possibilidade de escrever este texto questionando a existência dos seres vivos e dos humanos a partir de um criador inteligente. 

 

 

Referências 

Damásio, A. (2000). O Mistério da Consciência. São Paulo: Companhia das Letras. 

Damásio, A. (2011). E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras. 

Damásio, A. (2018). A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos e da Cultura. São Paulo: Companhia das Letras.