Escrito em: 22/11/2012.
Revisado em: 04/10/2018.
Palavras-chave: Teoria da Evolução, Consciência, Fé, Amor-próprio, Neurociência, Transcendência.
Introdução:
Este
artigo tem como objetivo explicar a razão pela qual existe o sentimento
de fé e por que nós, seres humanos, temos a capacidade, através do
nosso cérebro, de transcendermos a matéria e a energia comuns, em
pensamento e imaginação, sem necessariamente existir uma alma
influenciando nossas mentes ou haver seres espirituais/divinos em outro
(s) 'plano' (s). Na verdade, conseguimos imaginar a existência de outro
mundo ou outros mundos, outras realidades, além deste nosso mundo físico
e onde estariam supostos seres espirituais e/ou sobrenaturais. Mas
seria só imaginação embora junto com sentimentos e emoções, e, aqui,
você verá, está um diferencial importante
nas mentes dos humanos desde a nossa tomada de consciência de nós
mesmos e do mundo ao nosso redor. Ver também “Neurociência e como se
formam os valores religiosos em nossos cérebros”. (1)
:::::
Todos
os nossos sentimentos e emoções foram selecionados através da evolução
não deixando a espécie humana se extinguir aqui na Terra. E existe uma
base sólida de conhecimentos atuais, da Neurociência com A Teoria da
Evolução, para tanto: ver os meus artigos "O Porquê dos Nossos
Sentimentos" (2) e "O Porquê dos Nossos Sentimentos - 02". (3)
No
reino animal existe o instinto de sobrevivência, o instinto de
autopreservação, pelos quais os animais respondem a alguma agressão do
meio ambiente ou de outros animais, para sobreviverem. As primeiras
formas de vida na Terra, seres unicelulares, por volta de 3,7 bilhões de
anos, já apresentavam alguma forma de reação de autopreservação, como,
por exemplo, a capacidade de se afastarem de uma fonte de calor. A
crescente complexidade, no tempo, dos seres vivos, só foi conseguida
através da seleção de comportamentos complexos para lidarem com meios
ambientes novos ou em transformação. E assim também se selecionou
sistemas nervosos com cérebros.
Podemos
pensar o seguinte: de seres unicelulares até os mais complexos da
atualidade, nós, os humanos, a natureza selecionou, de atos reflexos
para reações de sobrevivência, comportamentos simples, até o sistema nervoso mais complexo existente para dotar-nos da maior variabilidade de comportamentos possíveis para a nossa sobrevivência. Nosso sistema nervoso é portador do órgão mais complexo dos seres vivos com os mecanismos superiores da inteligência, emoções, sentimentos e a consciência: o nosso cérebro.
A
variedade de comportamentos através da inteligência, produzida pelo
cérebro, nos faz adaptarmos a qualquer ambiente terrestre, porque,
inclusive, construímos tecnologia para tanto (no caso de lugares frios,
calor intensos, etc.). E a consciência entra nessa história como uma
grande "contribuição" à inteligência porque muito das nossas ações e
pensamentos, vontades e intenções, possuem a marca constante do "eu".
Como eu disse no blog "Neurociência e Consciência", (4)
nós a utilizamos sempre: (eu) farei isto, (eu) não quis realizar tal
tarefa, ((eu) preferi fazer outra), (eu) quero ir àquele lugar, etc.
O
neurocientista português António Damásio defende a tese na qual a
consciência vem de "um sentir", um sentimento, mas de um conhecimento,
como eu explico também no blog do parágrafo acima. Em dois livros, "O
Mistério da Consciência" (5) e "E o Cérebro Criou o Homem", (6) Damásio
argumenta essa tese baseado em mais de trinta anos de estudos e
pesquisas em laboratórios, sendo, atualmente, a maior autoridade no
assunto. De qualquer maneira existe algo de racional na consciência
porque o sistema, o cérebro, volta-se a si mesmo, reconhece e pensa
sobre si e sobre o corpo ao qual pertence.
Mas
será que para o cérebro humano, um órgão tão avançado como ele é,
produtor de tanta variedade em termos comportamentais, bastariam apenas
alguns mecanismos de defesa, de autopreservação, agressividade – a qual
nessa altura já é uma emoção -, por exemplo, para preservar a espécie
que o contém? Não. Foi necessário algo muito mais refinado, avançado
também: o amor-próprio. Ele seria o ápice de um sistema necessitado de
conservação, proteção, etc., ou seja, tudo ligado ao corpo e a ele mesmo
para sobreviver. Talvez não seja mesmo por
acaso a relação: animais sem consciência - instinto de sobrevivência;
animais conscientes (humanos) - amor-próprio. Note a frase “eu me amo”:
amor-próprio com o “eu” da consciência.
E a fé do título deste blog?
Existe uma confusão muito grande com respeito à fé e às crenças. As pessoas acham que só existe a fé se houver crenças religiosas,
mas alguém pode não possuir crenças e ter fé, fé em si mesmo, no
próprio potencial, na vida, etc. A fé é um sentimento poderoso porque é o
acreditar, o acreditar em nossas possibilidades, etc.
As
religiões são um conjunto de ideias e crenças, surgidas em um local
específico no planeta - uma região, um povo etc. -, ensinadas às
crianças desde cedo. Há variações em interpretações das ideias, das
próprias crenças com o passar do tempo, há divisões, há expansões para
outros povos etc.; e você sabe, seriam necessárias bibliotecas e mais
bibliotecas gigantescas para conter tantas informações e conceitos
criados pelo ser humano nesse sentido. Mas algo é certo: os sentimentos
das pessoas são "canalizados", para as crenças das suas religiões locais
e essas crenças se tornam verdades absolutas para cada uma das pessoas.
Elas passam a ter fé nos entes e nos ensinamentos dessas religiões. É o relativismo religioso.
Mas por qual razão surgiram as ideias e crenças de cada povo?
E
aqui está o verdadeiro motivo deste artigo. Precisei discorrer sobre
amor-próprio, consciência e fé para chegar onde eu queria.
Como
um ser inteligente, consciente de si e do mundo a sua volta, e dotado
de amor próprio, iria lidar com questões existenciais profundas como: de
onde viemos, por que estamos aqui, de onde veio tudo ao nosso redor,
para onde vamos após a morte, como lidar com o mal sempre presente na vida diária? Por que ele existe?
Imagine
o seguinte cenário: humanos vendo humanos nascerem e morrerem.
Cresciam, mas poderiam morrer a qualquer hora. Para onde iriam? Voltariam depois? Qual
seria a carga emocional negativa de angústia e de outros sentimentos
negativos em nossa espécie sendo o amor-próprio contrário a não
aceitação desse fato? Quais conflitos e perturbações internas surgiriam
dentro da maquinaria cerebral desses seres? E estou simplificando porque
o número de sentimentos e emoções em situações dessas seria muito
grande. Acredito em uma dificuldade séria ao cérebro para não funcionar direito.
A
partir do momento no qual o cérebro dos pré-humanos se tornou o mais
próximo do nosso, ele teria, penso eu, ter na combinação de consciência e
amor-próprio a fé e o poder de transcendência, de conseguir abstrair
entes divinos, formular crenças, de conceber uma "vida após a morte",
etc., com a propriedade de ter fé neles, de acreditar com uma grande
dose de carga emocional. A consciência e o amor-próprio talvez iriam
causar um impasse à evolução do nosso cérebro e esse conflito seria, em grande parte ou em um todo, resolvido com a presença da fé e da transcendência.
Falar em uma moderna teoria da evolução é acrescentar também as vantagens da racionalidade e dos sentimentos proporcionando ao cérebro um eficiente funcionamento.
Raciocínio, dedução, indução, estratégia, abstração, lógica etc., no
campo da racionalidade, já são difíceis de explicar aos leigos do porquê
de suas existências conforme a teoria da evolução; imagine então
sentimentos e sentimentos profundos como o amor-próprio e a fé.
O biólogo russo Theodosius Dobzhansnky
(1900/1975) disse certa vez com muita propriedade, como um dos maiores
biólogos do século XX, a frase: “Nada em biologia faz sentido senão sob a
luz da evolução”. E o cérebro é uma máquina biológica, um órgão
biológico.
Referências:
.
.
1 – Argos Arruda Pinto. Neurociência e como se formam os valores religiosos em nossos cérebros. 2017. Disponível em: < http://argosarrudapinto.blogspot.com/2017/02/neurociencia-e-como-se-formam-os.html >. Acesso em: 04/10/2018.
2 – Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos. 2001. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n14/opinion/material3.html >. Acesso em: 04/10/2018.
.
.
3 – Argos Arruda Pinto. O porquê dos nossos sentimentos – 02. 2002. Disponível em: < http://www.cerebromente.org.br/n15/opiniao/sentimentos2.html >. Acesso em: 04/10/2018.
Também disponíveis em: “Sistemas, Teoria da Evolução e Neurociências”. Disponível em: < http://sistemaevolucaoneurociencia.blogspot.com.br/ >. Acesso em: 04/10/2018.
4 – Argos Arruda Pinto. Blog: “Neurociência e Consciência”. 2013. Disponível em: < http://neuconblog.blogspot.com/2013/?view=classic >. Acesso em: 04/10/2018.
5 - António Damásio. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
6 - António Damásio. E o cérebro criou o homem. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
.
.
.
Leituras complementares:
Neurociência, psicologia evolutiva e religiões
Nenhum comentário:
Postar um comentário