Escrito em: 19/03/2007.
Revisado em 08/10/2018.
Palavras-chave: Consciência, António Damásio, Gene, Animismo, Criacionismo, Cérebro.
O
cérebro humano é uma máquina físico-química com aproximadamente cem
bilhões de neurônios. Toda essa maquinaria, junto com outros tipos de
células, é responsável pelos nossos pensamentos, imaginação, abstrações,
sentimentos, emoções, etc., e, também, sendo impressionante, nosso
caráter e personalidade.
Tudo
isso são propriedades emergentes das reações físico-químicas, ou seja,
propriedades situando-se em níveis superiores daqueles das reações, mas
dependentes destas.
Uma
pergunta difícil de ser respondida é aquela na qual se questiona se
podemos entender, na totalidade, o funcionamento dessa maquinaria. Não
precisaríamos de uma mente superior para entendermos uma inferior?
Podemos criar circuitos neurais e aproximá-los em propriedades da nossa
forma de pensar e sentir?
Uma questão sempre me intrigou com relação às nossas mentes: a consciência; uma propriedade das mais complexas, talvez a maior dos
nossos cérebros. É a capacidade de um sistema voltar a si mesmo,
corrigir erros, analisar as suas verdades e afirmações, etc. O único
sistema assim conhecido é o cérebro humano* produzindo a consciência e,
ao voltar sobre si mesma, tendo consciência dela própria, é a
propriedade mais intrigante que podemos imaginar: a autoconsciência.
Nenhuma
lei científica consegue explicar essa façanha (embora haja tentativas
recentes como, por exemplo, as ideias do neurologista e neurocientista português
António Damásio nos livros “O mistério da consciência” (1) “E o cérebro
criou o homem”), (2) e aí seria um prato cheio para animistas ou
criacionistas dizerem de algo sobrenatural guiando nossas mentes ao
gerar a consciência.
Não é bem assim. Apesar de não termos leis matemáticas ou biológicas elucidando essa questão neural, temos um recurso, uma pista, a nos apoiar: nossos genes.
Eles são os agentes de construção de todo nosso corpo incluindo o cérebro. Tudo funciona como funciona porque nossa estrutura, construída com base nos genes, é do jeito que é.
Eles
ainda deixam parte de nossa estrutura cerebral com uma plasticidade
intacta a ser moldada pelo meio ambiente durante nosso crescimento, na juventude e vida adulta, a conhecida neuroplasticidade.
A criança se desenvolve em um mundo diferente daquele dos seus pais.
Através de estímulos ambientais ela vai aprendendo a reagir ao mundo
externo e seu cérebro vai realizando conexões neurais específicas.
Então
nascemos com parte de nossa personalidade e caráter formados e outra
parte é moldada pelo meio ambiente. Um grande recurso da evolução porque
o ser humano não poderia possuir um cérebro rígido, sem a oportunidade
de evoluir com as mudanças ambientais e sociais. Não estaríamos aqui
hoje!
Então
o cérebro é um sistema possuindo propriedades, realizando as mais
diversas funções, devido a sua estrutura construída de acordo com os
nossos genes.
Não
importa se compreenderemos as propriedades cerebrais primeiro com leis
científicas ou com a codificação dos genes. Importa é saber que nada vem
de algo sobrenatural.
A consciência, talvez a mais complexa propriedade cerebral, vem de uma estrutura, o cérebro, construído por agentes determinados pelo nosso DNA: nossos genes. Tudo matéria e energia conhecidas por nós.
Nota:
(*) António Damásio diz em seu livro “O mistério da consciência” que os outros mamíferos também possuem consciência, mas por instantes, chegando, talvez, a um minuto.
Referências:
1- António Damásio. O mistério da consciência. 2000. São Paulo: Companhia das Letras.
2 - António Damásio. E o cérebro criou o homem. 2010. São Paulo: Companhia das Letras.
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